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Violência política já deu as caras em 2022 e pode ficar ainda mais intensa

Ela está aí para quem quiser ver. Mas nosso papel é entender porque ela acontece e o que podemos fazer para evitá-la

Por Marcela de Mingo, para a Capricho Atualizado em 16 nov 2022, 18h54 - Publicado em 2 ago 2022, 06h00
Violência política
45% dos brasileiros esperam que o volume de episódios violentos seja muito mais alto do que nas eleições anteriores. Como podemos evitar? Getty Images/Getty Images

Ninguém gosta de falar sobre violência, mas tem horas que essas conversas são bem necessárias. Tipo quando a gente percebe que os índices de violência eleitoral estão crescendo por aqui, ainda mais em um ano como 2022, de eleições gerais. Deu pra sentir a tensão?

Mas, ó, a gente não está falando disso sem motivo. Há algumas semanas, os principais jornais noticiaram a morte de um tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, no Paraná, por um apoiador do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Esse caso foi um grande sinal de alerta, afinal, foi claramente motivado por divergências envolvendo política.

A partir daí, o Instituto Locomotiva fez um estudo para medir a percepção dos eleitores sobre o que pode acontecer esse ano, e 83% dos entrevistados esperam mais episódios de violência política nos próximos meses – lembrando que faltam apenas dois meses para as eleições.

Mais do que isso, 45% dos entrevistados esperam também que o volume de episódios violentos seja muito mais alto do que nas eleições anteriores – aliás, quase metade das pessoas consultadas (45%) comentaram também terem presenciado episódios de violência eleitoral no último ano.

No estudo, o Locomotiva definiu a violência política como “comportamentos que geraram uma tensão ao envolverem gritos, xingamentos e a possibilidade de agressões físicas”. Mas a gente foi ouvir outras pessoas sobre o assunto.

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A professora do departamento de Ciências Sociais da UFSCAR, Maria do Socorro Souza Braga, afirma que o que chamamos de violência eleitoral podem ser “atos e comportamentos que agridem as instituições relacionadas ao processo eleitoral, tais como o próprio ato de votar”. Pois é.

“Ali podem ter vários atos de violência, desde a boca de urna à compra de votos ou essa agressividade às instituições que computam [o resultado das eleições], como o próprio TSE”, complementa.

A professora explica, ainda, que essa violência também pode ser caracterizada quando acontece em relação aos próprios candidatos – lembra do infame caso da facada, de 2018? -, quando um grupo político resolve tirar o opositor da jogada via comportamentos agressivos. É uma tentativa de “acabar” com a oposição. “É a imposição de um grupo político sobre o outro”, continua ela.

Aliás, quando o assunto são as instituições… Dá para ver como o índice de violência tem aumentado, certo? Afinal, vemos semanalmente notícias de ataques à Justiça Eleitoral, com questionamentos sobre a integridade das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral brasileiro, vindos, muitas vezes, do próprio presidente da República.

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A situação anda tão séria que o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral TSE), Edson Fachin disse que não vai tolerar casos de violência nas eleições.

“A Justiça Eleitoral não se fascina pelo canto das sereias do autoritarismo, nem se abala às ameaças e intimidações. Somos juízes, e nosso dever é abrir os nossos ouvidos à Constituição e às suas cláusulas pétreas democráticas. Não toleramos violência eleitoral, que, como sabemos, é um subtipo da violência política”, disse ele, em um encontro com juristas na última semana de julho. “A Justiça Eleitoral não medirá esforços para agir, a fim de coibir a violência como arma política, como também estamos preparados para enfrentar a desinformação como a prática do caos.”

Uma disputa de poder

Por mais que a violência eleitoral possa acontecer de muitas maneiras – inclusive nas conversas entre amigos e com a nossa família -, ela aparece em âmbitos mais amplos porque tem um objetivo: a manutenção de um status quo ou o agravamento de uma situação política.

“O raciocínio é que os atos de violência terão como objetivo mitigar a entrada de diferentes interesses na arena política, porque vão ter maiores chances de alcançar os seus objetivos”, explica a professora.

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Pensa no seguinte: um candidato a presidente com uma forte pauta em nome das populações vulneráveis pode ser uma ameaça para os políticos que já estão nos cargos públicos e que estão interessados e têm alianças com setores das camadas mais ricas.

Então, para evitar que essa troca de interesses governamentais aconteça, os grupos ligados a esses políticos podem se fazer valer da violência para evitar que outras pautas entrem na agenda pública.

“Tem uma disputa de projetos de país”, explica Maria. “Estamos num momento de muitos conflitos entre vários setores sociais que estão defendendo os seus interesses. Quando ultrapassamos o limite da conversa, da negociação, vai-se para esse outro lado, que é de dizimar o oposto.”

Dá pra evitar a violência?

De acordo com a professora, a informação é uma das principais armas contra a violência eleitoral e política – mas não é a única. “Quanto mais um jovem é bem informado e por diferentes fontes, ele pode contribuir para diminuir o impacto das fake news – que é outro tipo de violência, a digital”, explica.

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Além disso, ela conta que participar da vida política de forma consciente, engajando com pautas com as quais se identifica e até mesmo se filiando a partidos políticos são formas de gerar um envolvimento que combate as diferentes formas de violência.

“O jovem menos informado ou desinformado teria uma venda nos olhos. Conforme você se torna mais bem informado, você vai tirando essa venda. Mas ela nunca é tirada de uma vez”, diz. “A medida que aprofunda o conhecimento, você fica sem essa venda nos olhos. E isso mexe com o emocional das pessoas.”

Essa busca por informação e aprofundamento de qualidade, como dito anteriormente, não resolvem a questão da violência, no entanto, ajudam a compreender cenários diferentes e evitar envolvimentos violentos.

Por exemplo, a gente tem, hoje, uma boa parcela política que defende o armamento da população. Para Maria, essa é uma ideia que nasce no conceito de dizimar a oposição, por exemplo. Alguém que conhece os casos de países – como os Estados Unidos -, que têm sérios problemas com armas de fogo, dificilmente vai defender esse tipo de legislação, afinal, em uma população altamente armada qualquer pequeno conflito pode virar um tiroteio.

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Nisso entramos também no que fazer diante de casos de violência. O primeiro passo é você saber escolher as suas batalhas. Como disse a professora, não adianta discutir com alguém armado – e isso vale tanto de forma metafórica quanto literal. Diante de alguém que, claramente, não quer ter uma conversa racional e faz ameaças à sua integridade física ou da sua família, é melhor dar um passo para trás e deixar a pessoa falando sozinha.

O segundo passo é sempre acionar a polícia ou as instituições devidas diante de atos violentos – mesmo que sejam comentários preconceituosos, com motivação política, nas redes sociais.

“O que está em jogo são os argumentos, a defesa de narrativas”, explica. “As armas são os debates, a defesa de ideias, de propostas. Os jovens podem atuar aí, na construção de narrativas e propostas que vão se contrapor às propostas que você não quer, e, para isso, ele vai precisar ter um nível de conhecimento para pensar.”

O envolvimento com os partidos políticos, a formação da consciência política e, claro, o uso do voto consciente, são ferramentas essenciais para esse combate à vivência política violenta. Deu pra entender, né?

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