Estas narrativas moldaram campanhas dos indicados ao Oscar em 2025

Filhas honrando o legado das mães, retornos triunfais e muitas primeiras indicações marcam 97ª cerimônia do Oscar

Por Arthur Ferreira Atualizado em 2 mar 2025, 18h45 - Publicado em 1 mar 2025, 19h01
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Oscar 2025 veio carregado de primeiras vezes, surpresas e algumas reviravoltas que já estavam sendo arquitetadas há anos. Entre estreantes nas categorias principais, duelos curiosos e retornos inesperados, a premiação deste ano se tornou um prato cheio para quem gosta de narrativas cinematográficas – e não estamos falando apenas dos filmes em si, mas de tudo o que envolve a disputa pela estatueta.

De mãe para filha

Dá para dizer que este Oscar tem um toque de legado familiar, e Fernanda Torres e Isabella Rossellini são provas disso. A nossa representante brasileira carrega o peso e a glória de ser filha de Fernanda Montenegro, a primeira atriz brasileira a ter sido indicada ao prêmio.

Em 1999, Montenegro recebeu uma nomeação ao Oscar de Melhor Atriz por Central do Brasil, filme dirigido por Walter Salles, mas perdeu a estatueta para a norte-americana Gwyneth Paltrow por sua atuação em Shakespeare Apaixonado – decisão vista como injusta por muitos até hoje. Agora, 25 anos depois, os brasileiros nutrem um sentimento de “redenção” com a possibilidade de Torres ganhar a mesma categoria por Ainda Estou Aqui, também assinado por Salles.

Isabella Rosselini, que aos 72 anos recebeu sua primeira indicação ao Oscar por sua atuação coadjuvante em Conclave, carrega uma grande herança histórica: ela é filha de Ingrid Bergman, atriz sueca que recebeu sete nomeações na premiação ao longo da carreira – e levou três estatuetas para casa. De uma forma ou de outra, a história se repete – e, convenhamos, Hollywood ama um bom ciclo se fechando.

O filme mais polêmico do ano

Nenhum outro filme indicado ao Oscar 2025 gerou tanto debate quanto Emilia Pérez, do diretor francês Jacques Audiard. O musical estrelado por Karla Sofía Gascón, Selena Gomez e Zoe Saldaña conquistou prêmios importantes, incluindo a Palma de Ouro do Júri em Cannes, e fez história ao render a primeira indicação de uma mulher trans na categoria de Melhor Atriz.

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Mas a aclamação veio acompanhada de polêmicas. Além das discussões sobre a forma como a vivência trans é retratada, o filme também foi criticado pela maneira como apresenta o México. Filmado majoritariamente na França e com muitos trechos em inglês, o enredo uma onda de questionamentos por parte do público mexicano, que considerou o projeto distante da realidade local e repleto de estereótipos.

E não podemos deixar de mencionar todo o climão com a Karla Sofia Gascón, que, durante entrevistas no Brasil, afirmou que estaria sendo alvo de uma campanha negativa e insinuou que pessoas ligadas a Fernanda Torres estariam envolvidas em algum esquema para prejudicá-la.

Mais tarde, vários tweets antigos da atriz vieram à tona com declarações consideradas islamofóbicas, xenofóbicas e ofensivas a diversos grupos sociais, incluindo críticas ao movimento Black Lives Matter e às políticas de inclusão de Hollywood. Buscando minimizar o impacto negativo na campanha do Oscar, a Netflix optou por retirar Gascón de todo o material promocional do filme.

Com treze indicações ao Oscar e uma trajetória repleta de controvérsias, Emilia Pérez chega à premiação como um dos títulos mais comentados do ano. Será que a Academia vai abraçar o filme ou as polêmicas vão pesar contra ele?

A “redenção” para Demi Moore

Entre os retornos inesperados, ninguém chamou mais atenção do que Demi Moore. Após anos de altos e baixos em Hollywood, a atriz ressurge como uma força na temporada graças a A Substância, filme que não apenas a levou de volta ao centro das atenções, mas também quebrou barreiras no Oscar.

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O longa da diretora Coralie Fargeat traz Moore no papel de Elisabeth Sparkle, uma estrela do mundo fitness que, ao ser demitida, recebe uma proposta inusitada: um tratamento capaz de criar uma versão jovem e “aprimorada” de si mesma. Mas o que parecia um recomeço logo se transforma em um pesadelo psicológico.

Ao vencer o Globo de Ouro por sua atuação, Moore emocionou o público com um discurso sobre sua trajetória e os desafios que enfrentou ao longo da carreira. “Estou nessa profissão há mais de 45 anos, e este é o primeiro prêmio da minha carreira como atriz. Estou muito honrada e extremamente grata”, declarou.

Ela relembrou um momento difícil no passado, quando um produtor a chamou de “atriz de pipoca”, insinuando que, apesar do sucesso comercial, jamais seria reconhecida por sua atuação. “Eu acreditei nisso, comprei essa ideia, e, ao longo do tempo, isso me corroeu”, confessou. Mas A Substância trouxe uma nova perspectiva: “O universo me disse que eu ainda não havia terminado.”

A primeira vez de muitos (quase todos)

Se pensarmos em primeiras chances, a edição deste ano está repleta delas. A quantidade de estreantes entre os indicados impressiona. Na categoria de Melhor Atriz, Demi Moore, Fernanda Torres, Karla Sofia Gascón e Mikey Madison tiveram as primeiras indicações da carreira no Oscar, ou seja, apenas Cynthia Erivo já foi nomeada anteriormente.

Já entre as nomeações de Melhor Atriz Coadjuvante, Ariana Grande, Monica Barbaro e Isabella Rossellini estreiam na premiação. Ah, e isso não é só nas categorias das mulheres, viu? Kieran Culkin, Jeremy Strong, Guy Pearce e Yura Borisov também vivem o mesmo na edição de 2025.

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Além disso, apenas um dos diretores indicados a Melhor Diretor já foi nomeado anteriormente. Exceto por James Mangold (Um Completo Desconhecido), que recebeu uma indicação em 202o por Ford vs Ferrari, os demais diretores, Coralie Fargeat (A Substância), Brady Corbet (O Brutalista), Jacques Audiard (Emília Perez) e Sean Baker (Anora) foram prestigiados pela primeira vez.

Isso significa uma renovação quase completa de rostos na premiação, o que pode indicar que a Academia está disposta a apostar mais no novo e transformar a disputa em um território ainda mais aberto e imprevisível.

Timothée Chalamet é o momento

Timothée Chalamet, que já vinha sendo tratado como um dos queridinhos de Hollywood, consolida de vez sua posição como uma das maiores estrelas da atualidade. Este ano, ele está indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua interpretação de Bob Dylan em Um Completo Desconhecido, além de estrelar Duna: Parte 2, que também concorre a Melhor Filme. O Oscar é apenas mais um degrau nessa escalada que já parecia inevitável.

Caso Timothée vença o prêmio de Melhor Ator, ele se tornará o segundo ator mais jovem a conquistar o feito. Aos 29 anos, Chalamet ficaria atrás apenas de Adrien Brody, que detém o título após vencer o Oscar por sua atuação em O Pianista em 2003. Brody, nascido em 14 de abril de 1973, tinha 29 anos e 34 dias quando recebeu a estatueta, enquanto Chalamet, nascido em 27 de dezembro de 1995, também teria 29 anos no momento da premiação.

Wicked vai honrar o legado?

E, claro, não dá para falar da temporada sem citar Wicked. A adaptação de um dos musicais mais icônicos da Broadway chega ao Oscar com a difícil missão de honrar seu legado e, quem sabe, repetir o sucesso de outros musicais na premiação.

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Na cerimônia de 1940, O Mágico de Oz conquistou o público e a crítica, recebendo cinco indicações ao Oscar. O filme venceu nas categorias de Melhor Trilha Original, assinada pelo compositor Herbert Stothart, e Melhor Canção Original, com a icônica Over the Rainbow, eternizada pela voz de Judy Garland.

Apesar disso, perdeu na categoria principal, Melhor Produção (equivalente ao atual Melhor Filme), para E o Vento Levou, também dirigido por Victor Fleming. Contudo, Garland foi homenageada com um Oscar Juvenil, um reconhecimento por sua atuação marcante no papel de Dorothy.

Décadas depois, o impacto de Garland foi novamente reconhecido quando Renée Zellweger levou o Oscar de Melhor Atriz em 2020 por sua interpretação em Judy, que retratou os anos finais da vida da atriz. Será que Ariana Grande e Cynthia Erivo vão levar o legado adiante na premiação? 

Quer saber quais outros filmes do universo de Oz já foram indicados ao Oscar? A CAPRICHO te contou tudo nessa matéria (clique aqui).

Um gatinho da Letônia x Grandes estúdios

Dirigido por Gints Zilbalodis, Flow fez história como a primeira animação da Letônia indicada ao Oscar. Vencedor do Globo de Ouro, Flow superou produções de grandes estúdios e acumulou prêmios em Cannes, European Film Awards, Annie Awards e associações de críticos. Tudo isso com um orçamento de apenas US$ 3,7 milhões — uma fração dos US$ 200 milhões de Divertida Mente 2.

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O longa concorre com grandes nomes na categoria de Melhor Animação: Divertida Mente 2, da Disney Pixar, arrecadou US$ 1,675 bilhão, tornando-se a animação de maior bilheteria da história, e Robô Selvagem, da Dreamworks, ultrapassou US$ 320 milhões. Já Flow, sem o apoio de uma grande distribuidora, surpreendeu ao faturar mais de US$ 20 milhões.

Na Letônia, o filme virou fenômeno cultural, quebrando recordes de público e rendendo ao diretor o título de Cidadão do Ano em Riga. O sucesso também impulsionou investimentos na indústria audiovisual do país, abrindo caminho para novas produções independentes. Será que o “azarão” vai levar?

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