Autor conta como transformou o TCC sobre Castelo Rá-Tim-Bum em um livro
Bruno Capelas escreveu Raios e Trovões como trabalho de conclusão de curso e acabou levando o projeto para as livrarias
Já pensou fazer um TCC de tanto sucesso que ele acaba virando um livro de verdade? Foi o que aconteceu com Bruno Capelas, autor de Raios e Trovões: A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum, publicado pela Summus Editorial. Em 2014 ele estava buscando um tema para o livro-reportagem que ele precisava fazer para se formar em Jornalismo na USP, e acabou sendo inspirado por uma experiência que teve com sua irmã. “Um dia, estava assistindo à TV com a minha irmã, que é dez anos mais nova, e em vez de roubar o controle dela e mudar de canal, fiquei colado na tela. Estava passando Castelo Rá-Tim-Bum e eu vi o episódio até o fim. Aquilo me chamou a atenção: por que eu, adulto, continuava gostando daquilo? Busquei livros e reportagens sobre o assunto e não encontrei muita coisa. Aí eu percebi que poderia escrever sobre o Castelo no TCC”, contou ele à CAPRICHO.
Assim que escolheu o tema de seu trabalho de conclusão de curso, Bruno descobriu que o Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, faria uma exposição sobre o programa. “Graças a isso, tive acesso a um monte de gente com quem imagino que não conseguiria falar antes, bem como um monte de pesquisa bacana feita pela mostra”, revelou.
No livro, Bruno traz detalhes e curiosidades sobre a produção de Castelo Rá-Tim-Bum, e também algumas histórias bem divertidas dos bastidores. Por exemplo, você sabia que os atores sofriam com o figurino da série? “O Etevaldo (Wagner Bello) precisava que alguém desse água para ele na boca porque não conseguia segurar nada com aquelas unhas compridas”, contou o autor. Demais, né?
Para Bruno, existem alguns motivos pelos quais Castelo Rá-Tim-Bum faz sucesso com o público mesmo 20 anos após ir ao ar. “Um deles é que a turma que viu Castelo quando criança assiste hoje com nostalgia da infância – da mesma forma que a gente assiste aos novos filmes da Disney em live-action, como O Rei Leão e Aladdin“, explicou. Além disso, o fato do programa ter sido reprisado diversas vezes na TV Cultura ao longo das últimas décadas acabou fazendo com que o sucesso fosse mantido. “O público segue descobrindo o Castelo por conta das reprises, do YouTube ou das exposições que tem rodado o país”, continuou.
Há também o fato do programa não subestimar o conhecimento das crianças. “Ele sempre tratou com respeito a inteligência da criança – com a ideia de que dá para ensinar qualquer coisa, até poemas de Paulo Leminski e arte de Leonardo da Vinci, desde que a informação esteja inserida no universo da criança”. E, por último, Bruno acredita que alguns dos quadros curtinhos de Castelo anteciparam até mesmo o futuro da tecnologia! “Há quadros que duram 30 segundos, o equivalente a duas postagens no TikTok ou no Stories do Instagram, sabe?”, afirmou ele.
Para quem se inspirou no caso de Bruno e deseja transformar o projeto de TCC em livro (ou em outro formato, fora da faculdade), ele dá dicas: primeiro, é importante entender que tipo de trabalho pode ser aproveitado fora da faculdade. “Documentários têm boa saída para festivais de cinema, enquanto livros-reportagem podem virar bons livros de não-ficção”, explicou. Além disso, “é legal imaginar que tipo de esforço é possível ser feito para já deixar o trabalho mais redondo o possível. No meu caso, eu busquei fazer o máximo de entrevistas que pude para deixar o livro-reportagem bastante completo, mesmo que o formato de TCC tivesse limitações”. Procurar um tema inédito ou pouco explicado também ajuda. E, por último, é bom reforçar que a versão do TCC é sempre diferente do livro de fato, e que alterações terão de ser feitas. “A versão que entreguei à banca é bastante diferente da versão que chegou às livrarias – foram quatro anos e três reescritas completas até chegar num texto que funcionasse bem. O trabalho acadêmico tem muletas e também amarras que não precisam ser exatamente seguidas dentro de um livro ‘comercial’, por assim dizer”, contou Bruno.
AS TRÊS HISTÓRIAS PREFERIDAS DE BRUNO SOBRE O CASTELO RÁ-TIM-BUM:
O autor contou quais foram as coisas mais curiosas que ele descobriu sobre o programa.
1. DE INÍCIO, O PROGRAMA SERIA SÓ UMA SEQUÊNCIA DE RÁ-TIM-BUM
“Inicialmente, o Flavio de Souza e o Cao Hamburger, os dois principais criadores do Castelo, iam apenas criar novos quadros e fazer um Rá-Tim-Bum 2. Aí eles criaram tanta coisa que ia ser um programa bem maluco, com um trio de crianças viajando por portais mágicos em cinco cenários diferentes, incluindo uma escola e um Castelo na montanha. Ia ser bem caro produzir tudo isso, então a Cultura decidiu ficar só com um deles – e o Cao inventou um argumento em cima do Castelo da Colina, com um inventor que remetia ao Victor Frankenstein. Nessa primeira versão, tem uma coisa muito louca ainda: entre as crianças do trio, chegou a se cogitar a hipótese de uma delas ser o Lucas Silva e Silva, do Mundo da Lua. Mas no fim das contas o Lucas acabou virando Pedro, embora o ator (Luciano Amaral) seja o mesmo”.
2. OS ATORES SOFRIAM COM O FIGURINO
“Era um suplício pra quase todos os atores usar o figurino, porque o estúdio era muito quente. A Penélope (Angela Dippe) demorava mais de uma hora para se montar, enquanto o Etevaldo (Wagner Bello) precisava que alguém desse água para ele na boca porque não conseguia segurar nada com aquelas unhas compridas. E tem a história de que o Zequinha (Fredy Allan) chegou a quebrar o braço durante uma cena em que tinha de engatinhar pelo chão – e acabou aparecendo alguns episódios com uma tipoia, porque a produção não podia parar”.
3. SANDRA ANNENBERG, É VOCÊ?
“Gosto de ter confirmado de uma vez por todas que a Sandra Annenberg, que apresentava o Jornal Hoje, não é uma das passarinhas. É uma lenda urbana que rodou muito tempo na internet e até hoje, vira e mexe, ressurge por aí. Mas quem interpretou a passarinha foi mesmo a Ciça Meirelles, que é mulher do Fernando Meirelles, diretor do Rá-Tim-Bum e também de Cidade de Deus.”