Genera+ion: criadores falam de comparação com Euphoria e sobre diversidade
Em entrevista exclusiva para CAPRICHO, Zelda Barnz, Daniel Barnz e Ben Barnz revelaram detalhes da nova produção da HBO Max
Se você ainda não assistiu Genera+ion, corra para conferir os episódios da nova produção da HBO Max. A série adolescente conta com um equilíbrio entre a comédia e o drama para falar sobre a vida de um grupo diversificado de alunos que vive em uma comunidade conservadora. Abordando temas como sexualidade, família e amor, os jovens testam limites e crenças em um caminho cheio de descobertas.
Em uma entrevista exclusiva para a CAPRICHO, os criadores e produtores Zelda Barnz, Daniel Barnz e Ben Barnz falaram um pouco sobre como surgiu a ideia do enredo. Acontece que Zelda começou a pensar em tudo quando tinha apenas 15 anos e veio desenvolvendo a produção ao lado de seus pais desde então.
Na conversa, os três comentaram como a representatividade foi abordada e a importância disso, além de responder o que acham das comparações que vem sendo feitas entre Genera+ion e Euphoria.
Zelda, você tem 19 anos agora, mas quando você teve a ideia para Genera+ion, você tinha 15. Como isso aconteceu?
Z: Eu estava no acampamento de verão e fazia cerca de um ano desde que tive a realização de que sou bissexual. Pensei que deveria dizer aos meus pais [Daniel e Ben Barnz] em algum momento, então mandei uma carta para casa falando: ‘Aqui está tudo que estou fazendo no acampamento, tudo que está acontecendo… Aliás, sou bissexual. Com amor, Zelda.’ Depois disso, [meus pais e eu] começamos a ter conversas sobre minha sexualidade e identidade, o que nos trouxe essa faísca de uma conversa maior sobre como sexualidade, identidade e representatividade diferem nas nossas gerações. De todas essas conversas, nasceu a ideia da série.
Como isso se desenvolveu de uma ideia inicial para uma série de 16 episódios na HBO Max?
Z: Eu sempre quis estar em uma série um dia, mas inicialmente achei que escreveria em um livro porque eu não sabia como escrever um roteiro ou criar um arco para TV e coisas assim. Então, conversei com meu pai e ele me disse: ‘Posso te ensinar tudo isso. Podemos fazer como um projeto colaborativo.’ Começamos a trabalhar as ideias um do outro e a contribuir mais e mais na história central. Então Lena Dunham foi envolvida. Ela se tornou uma mentora para mim e nos ajudou muito a colocar essa série em um lugar em que estava pronta para ser escrita e apresentada.
Como Lena Dunham se envolveu?
Z: Daniel e Ben fizeram um filme chamado Cake (2014) e ela estava muito interessada nele. Ela conversou com eles sobre talvez trabalharem juntos em um projeto e ao mesmo tempo, estávamos desenvolvendo Genera+ion. Meus pais disseram: ‘Oh, nós meio que temos algo para você e nossa filha também está envolvida.’ Então se tornou uma parceria. Fiz um estágio com a Lena quando ela estava filmando Industry.
Você deve ter aprendido muito com ela. Qual foi a sua maior lição?
Z: Definitivamente. Ela aborda o trabalho com a meta de autenticidade. Ela quer que tudo seja o mais real e autêntico possível. Ela me ensinou tanto sobre isso e como autenticidade é tão importante na TV. Eu realmente acho que tirei muito dessa experiência e a série Girls dela é um ótimo exemplo disso. É muito autêntico com o grupo de mulheres que ela retratou naquela série.
O que você acha que faz Genera+ion ser diferente de outras séries adolescentes?
Z: Acho que Genera+ion aborda a representação queer e os personagens queer de uma forma bem diferente da que outras séries faziam no passado. Na nossa produção, os personagens queer não são apenas queer. As identidades e sexualidades são grande parte de quem eles são, mas não são a personalidade inteira deles. Muitos dos nossos personagens são gays e tem outras centenas de coisas acontecendo em suas vidas. Eles tem histórias que não são definidas por suas sexualidades e a sexualidade não define necessariamente a narrativa nessa série.
Como você se sente entre as comparações que podem acontecer entre Genera+ion e Euphoria?
D: Não é ruim ser comparado com uma série que é ótima! Somos todos fãs de Euphoria. Acho que elas são similares no papel mas quando você assiste, parecem produções muito diferentes. E é empolgante! É empolgante que você possa retratar adolescentes e isso ser tão diferente.
Os episódios tem meia hora ao invés de uma hora o que ajuda a definir um ritmo…
D: Os episódios de meia hora te permitem trabalhar as histórias e os personagens de uma forma diferente. Uma coisa que sempre foi importante para Zelda em termos de representar os personagens adolescentes e abraçar a autenticidade disso, é que às vezes eles podem fazer coisas estranhas ou aleatórias, sair da trajetória ou apenas ficar entediados. Tem muita liberdade e a real habilidade de abraçar um ritmo diferente nesse formato porque enquanto nossa série tenta ter momentos comoventes, temos muita comédia também. E isso é ser adolescente.
Z: Acredito que sendo adolescente, temos muitos momentos muito engraçados no ensino médio e temos momentos muito intensos e aprendemos a alternar entre eles com muita facilidade. É muito estranho ver o tópico de uma conversa ir de mostrar um vídeo engraçado para mortalidade mas é uma coisa interessante que a minha geração é capaz de fazer, então eu definitivamente penso que o programa tem um tom que reflete isso.
Até que ponto a série se baseia em suas próprias experiências, Zelda?
Z: É interessante, acho que minha experiência influenciou muito a história da série, mas nenhuma história do enredo é explicitamente baseada na minha experiência. Muitas pessoas na minha vida inspiraram a produção em si e ideias relacionadas a ela, mas é muito ficção.
Pensando na natureza da sua relação pai-filha, houve algum momento estranho?
Z: Definitivamente houve alguns momentos estranhos! Foi muito estranho escrever roteiros juntos com conteúdo explícito. Principalmente no começo. Mas então chegamos a um ponto em que pensamos: ‘Só precisamos ser abertos e honestos uns com os outros.’ Uma vez que chegamos a esse lugar, eu honestamente acho que ajudou a pavimentar o caminho para uma comunicação mais aberta e honesta em nossas vidas em geral.
O que você achou mais estranho?
Z: Obviamente, muitas das cenas de sexo e muitos xingamentos. Por um tempo, fui ensinada a nunca xingar na frente de pais ou figuras de autoridade. Acho que minha escola primária realmente martelou isso em mim. Se você xingasse na aula, teria muitos problemas.
B: Eu amo que sua escola primária foi tipo: ‘Não xingue!’
Z: Era uma loucura. Crianças diriam ‘droga’ e seriam suspensas. Foi muito intenso. Quando começamos a trabalhar no roteiro, lembro de ficar envergonhada por ter usado a palavra com F. Agora nós apenas xingamos na frente um do outro o tempo todo.
Daniel e Ben, como foi trabalhar com sua filha?
D: Embora sempre tenhamos amado a ideia dessa série, nunca estivemos convencidos de que seria um programa que acabaria no ar. Apenas achamos que trabalhar com Zelda seria uma experiência incrível para ensiná-la sobre o trabalho que fazemos. Lembro de quando fomos e apresentamos a série para o canal. Entramos em uma sala de conferências gigante com uma mesa enorme como a do Dr. Strangelove. Zelda e eu estávamos apresentando juntos, conforme tínhamos praticado, e do outro lado da mesa estavam todos aqueles executivos e Lena Dunham. Eu fico muito nervoso. É intimidante. Virei para Zelda quando começamos e pensei: ‘Meu Deus, ela está tão tranquila e tão pouco intimidada!’ Isso foi tão inspirador para mim. Eu estava tipo: ‘Ok, estou realmente melhorando meu jogo.’ Esse foi um daqueles momentos de orgulho paterno.
Daniel, como você abordou a série como diretor?
D: Sempre peguei minha deixa da própria Zelda. Então, se a série foi feita para parecer do avesso, como representamos isso visualmente? Isso realmente guiou nossa conversa desde o início. Eu queria que a produção parecesse tão real quanto a voz que Zelda estava trazendo para ela. Nossa linguagem visual é muito subjetiva, de modo que estamos sempre com nossos personagens e vendo o mundo como eles o veem. Isso se estendeu ao uso de telefones e redes sociais porque queríamos ter certeza de que estávamos exibindo os telefones da maneira que são para os jovens. Eles são uma extensão deles e uma parte de sua linguagem, então não queríamos usar legendas, queríamos realmente ver os telefones e tentar fazer isso da forma mais dinâmica possível. Para que você pudesse sentir, porque isso é ser adolescente.
Qual o papel dos figurinos e da música na série?
B: Nossos supervisores musicais Maggie Philips e Andrew Brady criaram playlists para cada personagem, então havia essas listas realmente longas e muitas dessas músicas acabaram na série.
D: Usamos apenas as músicas que geralmente tocam no local ou através dos fones de ouvido de alguém no rádio. A produção não tem uma trilha. Sempre quisemos ter certeza de que seria uma abordagem de dentro para fora da série.
B: Também trabalhamos com uma figurinista incrível, Shirley Kurata, que tinha uma visão tão forte da série, foi um presente para esses atores.
D: Ela conta as histórias de cada personagem. Cada look é tão definido e diferente. A forma como esses jovens expressam suas identidades é através da aparência e da música que ouvem e, portanto, encontrar pessoas com as quais poderíamos colaborar e fazer parceria, que poderiam entender isso e contar as histórias de uma perspectiva de dentro para fora foi inestimável. Houve muitas conversas sobre: ‘Como são os quartos desses personagens?’ ‘Quais são os objetos que existem neles?’ ‘Como não parecer genérico?’ Eu olho para o quarto de Zelda e ela tem essas ‘trecos’ ou alguma coisa estranha de alguma viagem que ela fez. Queríamos trazer essa especificidade para o mundo desses adolescentes.
Os personagens da série são maravilhosamente diversos. Qual foi a vantagem de escalar, em grande parte, recém-chegados para essas funções?
Z: Foi muito, muito importante para nós que nossos atores parecessem adolescentes. Queríamos fazer a série parecer real e autêntica e é difícil fazer isso com atores que são modelos de 27 anos interpretando jovens de 16 anos. Queríamos jovens que realmente se sentissem como jovens.
D: Além de querer encontrar ótimos atores – e sentimos que encontramos os atores mais incríveis, esse elenco está além; eles são tão talentosos! – é empolgante ver pessoas que parecem jovens e que têm tipos de corpos que parecem reais. Era tão importante para nós que os personagens fossem realmente diversos, racial e etnicamente, e que se identificassem em todas essas formas diferentes nos espectros de gênero e sexualidade, porque queríamos ter certeza de que suas experiências, sendo adolescentes de cor, também fizessem parte da narrativa.
Que impacto você espera que a série tenha sobre os espectadores?
Z: Só espero que os adolescentes possam assistir a isso e sintam que se veem representados na tela. Espero que eles se sintam aceitos e amados e possam ver quem são refletidos na câmera. Acho que isso é muito importante.
D: É uma coisa muito poderosa de se ver. Crescer queer e não necessariamente me ver na TV ou no cinema, a ideia de que poderia haver adolescentes em algum lugar que veem pessoas na tela que se parecem com eles e amam como eles e os fazem se sentir menos sozinhos… Eu acho que é isso que, em nossas mentes, seria um sinal de sucesso para a série.
*Essa entrevista é uma cortesia da HBO Max para CAPRICHO.