
Getúlio Abelha disseca sua arte em Autópsia e revela novos caminhos
"Nunca imaginei que faria um álbum sobre rebolar com a mão na cabeça enquanto a lágrima cai", brincou o cantor em entrevista à CH
e existisse uma palavra para definir Getúlio Abelha, seria irreverência. Desde que surgiu com seu forró eletrônico debochado, o artista piauiense tem provado que não se contenta com o óbvio. E agora, com Autópsia, seu novo álbum, ele mergulha em uma nova fase em que a melancolia e a experimentação sonora andam de mãos dadas com a pista de dança.
Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, Getúlio contou que o novo projeto está longe de ser uma simples sequência de Marmota (2021), seu disco de estreia. Autópsia chega para mostrar um artista mais introspectivo, só que sem perder a pegada visceral que sempre fez parte de sua identidade.
“Eu acho que, para mim, era importante preservar a minha autenticidade, a minha presença ali na produção e na composição. Acho que deixei uma grande parcela de humor. Continuo leve, continuo despretensioso de certa forma, mas aquele estereótipo de humor e deboche ficou no passado. Este segundo álbum é menos político, menos coletivo e muito mais interno”, explicou Getúlio.
O nome Autópsia remete a um processo de dissecação e análise. E esse álbum é exatamente isso: uma investigação de Getúlio sobre si mesmo. “Não quero mais distrações, não quero mais falar sobre os grupos coletivos dos quais faço ou fiz parte, agora preciso me voltar para dentro'”, dividiu.
O disco foi dividido em duas partes, a primeira chegou no dia 14 de fevereiro com cinco faixas que, apesar de continuar a ter o forró eletrônico como fio condutor, mergulham em várias referências e sonoridades como emo, bolero, funk e música eletrônica.
“Desde que decidi que este novo projeto teria vários estilos musicais, nunca tive medo de que ele não fosse coerente ou coeso, de que parecesse uma grande mistura, porque sempre tive a consciência de que o elo que faria tudo ser coerente é o fato de que sai de dentro de mim“, ressaltou o cantor ao refletir sobre a essência que compõe a produção.
Se em algum momento eu quiser me encaixar mais nos moldes do mercado, simplesmente vou aceitar e me adaptar. Não quero que isso se torne minha grande questão, porque é algo incontrolável.
Getúlio Abelha sobre Autópsia
E a mistura realmente surpreende. Freak, a faixa de abertura, tem um ar existencialista que dá o tom do disco. A letra reflete sobre pertencimento e identidade, abordando, de forma crítica, a sensação de inadequação no mundo. Em seguida, Toda a Semana traz a influência do forró eletrônico dos anos 90, temperado com nuances da música eletrônica e até uma pitada do álbum Music, de Madonna.
Engulo ou Cuspo, parceria explosiva com Katy da Voz e As Abusadas, é um verdadeiro choque de energia, misturando forró, punk e reggaeton. “Queria que essa música fosse intensa. Não era para ser leve, era para ir fundo, para ser radical. E a brutalidade punk que elas trouxeram foi essencial”, afirmou o artista. A faixa marca um retorno a uma energia mais crua e agressiva, que remete a momentos de Marmota.
Mas entre batidas frenéticas e letras afiadas, Autópsia também é um disco sobre solidão e introspecção. Isso fica claro nas duas últimas faixas, Armação e Zezo, quando Getúlio consegue ser melancólico enquanto nos convida para se jogar nas pistas de dança. “Eu já sabia que ia falar sobre solidão, porque é o que estou vivendo agora”, contou.
Gosto de saber que tenho força e capacidade de criar esse caminho. Sinto que estou amadurecendo, porque falar sobre solidão e essas dores era algo que eu costumava ter receio de compartilhar.
Getúlio Abelha sobre Autópsia
O resultado é um álbum em que se pode chorar e rebolar ao mesmo tempo, algo que o próprio Getúlio só percebeu depois que tudo estava pronto. “Nunca imaginei que faria um álbum que falasse sobre ‘rebolar com a mão na cabeça enquanto a lágrima cai.‘”
A performance ao vivo sempre foi um pilar do trabalho de Getúlio, e o show de lançamento de Autópsia promete ampliar a experiência. No dia 23 de fevereiro, na Casa Natura Musical, em São Paulo, ele levará para o palco um espetáculo ainda mais conceitual. “Esse show é muito mais teatral no sentido de que cada pessoa do elenco tem sua própria personalidade e identidade.”
“Não será um show com pessoas dançando atrás de mim, repetindo coreografias. Eu já me esforçava muito para que no Marmota Tour isso não acontecesse, para não ser um show com pessoas apenas decorando e fazendo passinhos repetitivos, mas agora a gente elevou o nível”, garantiu o cantor.
E o futuro? A primeira parte de Autópsia já chegou chutando a porta, mas Getúlio promete mais. “Pretendo trazer colaborações e explorar outros estilos musicais que não foram trabalhados nessa primeira parte”, adiantou. Além disso, o artista também planeja um projeto paralelo de São João, mostrando que sua veia criativa não para.