Quando lançou o clipe da música Girls Like Girls, a cantora Hayley Kiyoko viu potencial para expandir a história em um universo ainda maior. A intenção era fazer um filme baseado no enredo do vídeo, mas a narrativa se transformou no primeiro livro assinado pela artista. Publicado no Brasil pela Editora Intrínseca, o título Girls Like Girls: Uma história de amor entre garotas celebra o romance entre duas garotas e a autora compartilhou detalhes e curiosidades de seu processo criativo durante a 27ª Bienal do Livro de São Paulo.
“As pessoas dizem que amavam o clipe e agora estão lendo o livro. Significa muito pra mim poder compartilhar essas experiências com todos”, destacou Kiyoko em entrevista exclusiva à CH. O enredo criado pela cantora em Girls Like Girls* acompanha duas jovens que se aproximam e percebem sentimentos mais intensos uma pela outra, baseado em algo que ela mesma viveu no passado, mas sem trazer um tão olhar positivo.
Relembrando situações que viveu no passado e adaptou para o livro, a escritora celebrou a oportunidade de poder mudar o desfecho desta vez. “Estou rindo agora mas foi um trauma. É muito maravilhoso poder pegar um momento tão impactante da minha vida, quase que doloroso, e transformar em uma experiência positiva. Escrever esse romance é minha história de redenção de um coração partido, tendo a chance de contar a história que eu queria ter, com elas terminando juntas e com um final feliz.”
Os finais felizes e esperançosos nas histórias de Hayley são inspirados naquilo que ela gostaria de ter lido quando era mais jovem, se tornando um tema importante em todos os trabalhos da artista. “Eu cresci com representatividade queer focada em trauma e queria muito saber que posso ser feliz, que posso prosperar, que posso superar momentos difíceis e também ter um final feliz”, explicou a cantora.
Meu objetivo na vida, como cantora, autora e diretora, é criar um conteúdo para todos nós como um lembrete, para criar esperança.
Hayley Kiyoko
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Hayley ressaltou a importância da representatividade queer em diferentes formatos, comentando a ascensão de uma nova geração de artistas, como Reneé Rapp e Chappell Roan. “Eu amo ver pessoas vencendo porque diz pra indústria que precisamos de mais histórias como as nossas e que as pessoas conseguem se conectar e se identificar com isso. [Mostra] que nossas vozes são importantes. Sinto que, quando comecei minha carreira, a indústria musical não fez eu me sentir importante”, afirmou ela.
A autora celebrou o aumento das histórias queer, mostrando ainda que precisamos de cada vez mais vozes contando suas histórias. “Esse é meu objetivo de vida, criar conteúdo queer com esperança”, acrescentou a cantora durante visita que foi repleta de carinho dos fãs brasileiros.
“Óbvio que, no futuro, espero fazer shows porque sei que é isso que todos querem também. Meu sonho é voltar para fazer isso. Mas estou muito honrada de ser parte da Bienal, celebrando Girls Like Girls, que é e sempre vai ser um livro muito significativo pra mim”, completou.
Confira a entrevista completa com Hayley Kiyoko:
CH: Pensando no impacto de Girls Like Girls, não só a música, como o clipe e o livro, fazem parte da vida de muita gente e estiveram presentes na trajetória e nas experiências dos fãs. Como é fazer parte disso?
Hayley Kiyoko: Tem sido uma experiência tão linda e me sinto muito sortuda em ter minha comunidade e minha base de fãs crescendo ao meu lado. O clipe saiu em 2015 e agora temos o livro. É tudo muito legal. Por exemplo, conheço uma pessoa que tinha 8 anos quando viu o clipe e agora ela tem 16 e está lendo o livro, isso é incrível. Eles dizem que amavam o clipe e agora estão lendo o livro. Significa muito pra mim poder compartilhar essas experiências com todos.
CH: Eu sei que você queria que fosse um filme e, no fim, acabou se tornando um livro. Já que falamos da importância para os fãs, queria saber como escrever essa história te impactou também?
H: Eu sempre quis que [a história] fosse um filme, sempre foi meu sonho. Mas eu resolvi transformá-la em um livro, assumindo o controle da situação e deixando meus fãs aproveitarem a história que eu sempre quis contar. Isso foi muito gratificante de várias formas e foi terapêutico porque eu posso contar muito da minha história através de Girls Like Girls. Eu tinha a minha própria Sonya nos meus 16 anos e ela partiu meu coração. Eu fui buscar minha jaqueta jeans na casa dela, ela me rejeitou e eu chorei tanto. [risos]
CH: É bom poder rir depois que passa, né? [risos]
H: Isso! Estou rindo agora mas foi um trauma. É muito maravilhoso poder pegar um momento tão impactante da minha vida, quase que doloroso, e transformar em uma experiência positiva. Escrever esse romance é minha história de redenção de um coração partido, tendo a chance de contar a história que eu queria ter, com elas terminando juntas e com um final feliz.
CH: Esse é um ponto interessante, como você trouxe o final feliz.
H: Eu cresci com representatividade queer focada em trauma e queria muito saber que posso ser feliz, que posso prosperar, que posso superar momentos difíceis e também ter um final feliz. Por isso, meu objetivo na vida, como cantora, autora e diretora, é criar um conteúdo para todos nós como um lembrete, para criar esperança.
CH: O livro traz muitas experiências que você conhece, como o luto, o medo de não ser escolhida. Isso é explorado través dos personagens, que são muito identificáveis para o público. Como foi escrever de uma forma em que você abordou detalhes de situações suas de uma forma em que seus leitores também se sentiram representados?
H: É uma linha tênue, né? Estou explorando experiências que tive, mas também estou contando isso pelos olhos de um personagem diferente de mim. Imagino que, infelizmente, muita gente navegou pelo luto de alguma forma e o mesmo aconteceu na minha vida. Minha mãe perdeu a mãe dela muito nova e eu fiquei muito interessada pela ideia de honrar essa experiência.
Além disso, eu sinto que se uma pessoa não souber que sou lésbica, elas não me conhecem totalmente. É uma grande parte de mim. Então, é muito legal navegar por isso no livro também. Com a Coley sentindo essa perda e sentindo que a mãe nunca vai conhecê-la completamente.
Eu também gostei muito de compartilhar personagens diferentes, como Blake e Alex, introduzindo pessoas que eram reais pra mim em experiências reais.
CH: Escrever um livro pode ser bem intenso, porque você pode ser vulnerável de uma forma diferente. Você sente que mudou como cantora ou artisticamente depois disso?
H: Sim. Foi uma experiência ótima. Acho que definitivamente evoluí como artista. Acredito que me inspirou muito para contar mais histórias porque, quando você está fazendo um clipe ou em turnê, tem muito dinheiro envolvido. Te dizem que você não pode fazer isso ou aquilo. Tem muita gente envolvida. Mas quando você está escrevendo um livro, você só tem letras em um teclado. Você pode fazer tudo. Tudo é um “sim”. Você pode expandir o mundo de diferentes formas. Então, como artistas, foi revigorante e me inspirou a criar o que eu realmente quero, que é tudo.
CH: E escrever um segundo livro foi mais difícil ou mais fácil?
H: Foi diferente. Eu tenho um segundo livro chamado Where There’s Room For Us. Não sei se vai ser publicado no Brasil, mas vamos torcer. Então, ele deve ser lançado ano que vem.
Foi uma experiência diferente porque, com Girls Like Girls, eu já tinha essas personagens criadas no clipe. Foi quase como trabalhar inversamente, mas com Where There’s Room For Us é uma experiência diferente. Ainda não posso te contar sobre o que é o livro mas eu não tinha algo pré-estabelecido. Foi uma jornada muito divertida e estou muito empolgada para contar mais em algum momento.
CH: Na indústria musical, também estamos vendo o crescimento de artistas queer com diferentes narrativas e experiências narradas de diferentes formas nas canções, como Reneé Rapp e Chappell Roan. Como você vê esse crescimento de artistas?
H: É muito inspirador. Eu amo ver pessoas vencendo porque diz pra indústria que precisamos de mais histórias como as nossas e que as pessoas conseguem se conectar e se identificar com isso. [Mostra] que nossas vozes são importantes. Sinto que, quando comecei minha carreira, a indústria musical não fez eu me sentir importante.
Então, fico muito inspirada em ver tantas artistas vencendo na indústria musical. E muitos autores vencendo também, tendo seus livros publicados e contando essas histórias de amor queer com finais cheios de esperança. Esse é meu objetivo de vida, criar conteúdo queer com esperança.
CH: E os fãs brasileiros estavam esperando uma visita sua há anos. Como é sentir esse amor constante deles?
H: Eu sou muito grata pelo amor. Faz mais de 10 anos desde que vi o meu primeiro “Come To Brazil”. Sinto que é monumental estar aqui. Óbvio que, no futuro, espero fazer shows porque sei que é isso que todos querem também. Meu sonho é voltar para fazer isso. Mas estou muito honrada de ser parte da Bienal, celebrando Girls Like Girls, que é e sempre vai ser um livro muito significativo pra mim.
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