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Holly Black define escrever O Herdeiro Roubado como um retorno para casa

A autora de O Príncipe Cruel conversou com a CH sobre a sensação de revisitar o fascinante universo de Elfhame apresentando novos conflitos e reviravoltas

Por Anny Caroline Guerrera Atualizado em 29 out 2024, 18h59 - Publicado em 5 fev 2023, 10h00

No Reino das Fadas não há palitinhos de peixe empanado, ketchup ou televisão.” Foi assim que Holly Black iniciou a história em O Povo do Ar, famosa trilogia que conquistou o coração de milhares de leitores ao redor do mundo nos últimos anos através de personagens com personalidades marcantes, conflitos imprevisíveis e reviravoltas impressionantes.

Anos se passaram em Elfhame após o desfecho conhecido pelo público no último livro da série – mas agora temos a chance de revisitar o complexo mundo criado pela autora com o lançamento de O Herdeiro Roubado, que continua a narrativa em uma duologia com novos e antigos personagens já conhecidos pelos fãs.

P.S.: Essa matéria contém spoilers de O Príncipe Cruel.

Holly Black
Holly Black CAPRICHO/Divulgação

No novo título, estamos de volta ao universo da fantasia para acompanhar Oak, o irmão mais novo de Jude Duarte – a protagonista da primeira trilogia. O livro é narrado sob o ponto de vista da protagonista Suren, ou Wren, que também já havia aparecido na história quando criança, sendo a Rainha da Corte dos Dentes. Agora adolescentes, Oak e Wren se reencontram e partem em uma jornada de mais mistérios e estratégias envolvendo jogos políticos.

Em uma conversa exclusiva com a CH, Holly Black contou que percebeu que existia potencial para explorar mais do Reino das Fadas enquanto escrevia o desfecho de Jude, destacando que a forma com que os acontecimentos do enredo impactaram Oak foi um dos fatores que a fez refletir sobre dar um foco maior ao príncipe: “Ele [Oak] é alguém muito protegido por suas irmãs.”

Elas querem que ele não tenha o trauma que tiveram, mas não existe forma de protegê-lo do trauma que ele viveu”, ressaltou. “Madoc está exilado por conta dele. Pessoas morreram. A mãe biológica dele foi assassinada por causa dele. Não há forma de apagar isso. Acho que ele sente muita responsabilidade pela família”, recordou Black sobre a motivação para se aprofundar no irmão de Jude, Taryn e Vivi – que ainda é o próximo na linha de sucessão para Grande Rei.

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Já Wren é a personagem principal do novo livro, apresentando paralelos com algumas situações e traumas enfrentados por Jude, chamando a atenção de Holly: “Eu queria pensar nas maneiras em como elas seriam similares uma com a outra. Na forma em que elas reconheceriam momentos em que têm situações similares, mas em que as situações fossem diferentes o suficiente para que as reações fossem distintas.”

E essas reações são refletidas nas atitudes e nas explosões de cada uma: ”Acho que Jude colocava muito da sua raiva para fora enquanto a Suren internaliza isso. Ela realmente está olhando para trás quando a conhecemos. Suas metas são todas no pensamento: ‘Vou tentar fazer algo melhor no mundo por conta de todas as coisas que eu perdi.’”

Apesar de ter dado grande relevância para as semelhanças, a autora considerou importante trabalhar também as singularidades entre elas: “Foi muito interessante ir em uma jornada com alguém que não estava correndo na direção dos problemas, que não estava disposta a admitir algumas das coisas que queria.”

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Nem vilão, nem herói: a construção de personagens complexos

Confiança pode ser um tema sensível nos livros de Holly Black. Apesar de fadas não terem a possibilidade de mentir, elas sabem bem como usar palavras ao seu favor. Isso faz com que seja cada vez mais difícil compreender quais são as reais intenções dos personagens e isso é um tópico que a autora fica feliz em poder desenvolver, apesar do processo complicado: ”Eu penso nisso como uma calibração. Porque acho que, especialmente, personagens como Madoc e, certamente, personagens como o Cardan, realmente precisam ser extremamente calibrados”, explicou.

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”Por exemplo, Cardan precisa ser um babaca mas o quão babaca? Onde fica essa linha tênue? Das coisas que ele precisa fazer e as coisas que ele não pode fazer”, refletiu a autora sobre seu personagem que, com perdão ao trocadilho, é realmente cruel em determinados momentos, mas se tornou um dos mais amados da fantasia pelo que foi trabalhado de sua personalidade, que é aprofundada na história e também em um livro focado nele e intitulado Como O Rei de Elfhame Aprendeu a Odiar Histórias.

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O processo para descobrir como aprimorar cada particularidade se aplica da mesma forma para Madoc, um nome importante nas duas narrativas: “Acredito que isso também é algo verdadeiro para o Madoc, nos primeiros rascunhos, eu me lembro de fazê-lo simpático demais e os leitores pensariam: ‘Por que ela está tão preocupada? Ele parece ótimo.’ Mas, em outros rascunhos, eles diriam: ‘Ele é tão horrível!’”

É tudo sobre uma linguagem muito específica e um comportamento muito específico e acho que faz parte da diversão de escrever esses personagens e aqueles que nem sempre são os mais legais.” Mas, apesar de ser algo que goste de elaborar em seus livros, Holly ressalta que tarefa não é fácil. Para isso, é necessário olhar para trás e fazer mudanças constantes em pequenos detalhes, que podem fazer grande diferença – como a personalidade de Oak.

Tem muita coisa que precisei descobrir sobre o quão exatamente aberto ele era de certas formas e o quanto ele estava fingindo, existem muitas coisas em que preciso voltar e realmente mudar pequenos pedaços de como ele se comporta”, disse ela sobre retornar ao passado para descobrir como desenvolver o futuro de forma coesa.

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Elfhame e o retorno para casa

Mergulhar nas personalidades dos personagens pode não ter sido simples, mas Holly definiu a sensação de retornar para Elfhame e a experiência de contar mais sobre a história de cada um como um retorno para casa. Eu conhecia as pessoas, sabia como a magia funcionava e os sentimentos do livro. Passar um tempo com os personagens que eu já conhecia, mesmo que eles não tenham a mesma idade, foi como voltar para casa”, descreveu.

Ela ainda destacou que foi diferente estar de volta, especialmente após escrever O Livro da Noite, sua primeira fantasia adulta, em que precisou criar um sistema de magia distinto de tudo que já havia feito antes: “Parecia que eu estava fazendo algo muito distante”, explicou ela sobre os dois processos de escrita.

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Ao voltar para Elfhame, não dá para negar que Cardan e Jude são figuras marcantes e significativas, seja na trilogia em que protagonizam ou no novo enredo. A expectativa para saber mais sobre eles é grande entre o público e foi confirmado que ambos estarão no segundo livro da duologia.

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“Ela tem um problema no fim do livro, é um problema político agora. E as coisas que ela não pode fazer pelo Madoc, ela deve fazer por seu irmão”, disse Holly ao abordar a aparição dos dois personagens no próximo livro, intitulado The Prisoner’s Throne (O Trono do Prisioneiro, em tradução livre). A sequência contada através dos olhos de Oak vai marcar a conclusão da nova história da autora.

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O amor dos fãs brasileiros

A fã base de Holly Black no Brasil é grande. Com títulos de sucesso publicados pelo selo Galera Record, a autora e seus personagens fazem sucesso nas redes sociais e todo esse carinho não passa despercebido.

Estou no Instagram e sei que toda vez que publico que estou indo para algum lugar, muitos dos meus fãs brasileiros comentam dizendo: ‘Você vai vir ao Brasil?’”, destacou ela sobre o marcante pedido e questionamento dos fãs brasileiros.

Apesar de ainda não ter um compromisso marcado, a autora se mostrou muito empolgada em visitar o país no futuro: “Agora eu não tenho um plano específico, mas eu quero ir, eu vou, estou indo!”, afirmou entre risos.

Pode vir que estamos te esperando, Holly!

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