pós 12 anos de carreira como compositora, KING Saints finalmente lançou seu primeiro álbum, Se Eu Fosse Uma Garota Branca, em um momento que marca sua transição de compositora para intérprete. Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, ela refletiu sobre o significado desse passo em sua jornada artística, ao mesmo tempo, em que traz letras divertidas e provocativas.
“Sempre mantive vários projetos ao mesmo tempo. Mas, realmente, nesses últimos dois anos, coloquei muita energia no meu lado artístico, focando em ser intérprete também, sem deixar de lado a composição, que é algo pelo qual sou fascinada”, conta KING Saints à CAPRICHO.
Ao longo de 12 anos de carreira, a artista nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, construiu um nome sólido nos bastidores da música, compondo para grandes artistas e colaborando em projetos que deixaram marcas no cenário pop e urbano brasileiro. Seu talento não passou despercebido, sendo indicada ao Grammy Latino por seu trabalho em DOCE 22, de Luísa Sonza, e AFRODHIT, de IZA.
A decisão de se tornar a estrela de suas próprias composições é uma mudança significativa para a carioca, que vê o lançamento de seu primeiro disco como o momento certo, “tanto em termos de maturidade de mercado quanto de crescimento pessoal”.
Se Eu Fosse Uma Garota Branca chama a atenção logo de cara, não apenas pelo título provocador, mas pela capa que provoca ao trazer a artista após fazer um procedimento para clarear sua pele.
“A estética começou a partir de uma pesquisa sobre a Zezé Motta quando ela fez Chica da Silva, e também Taís Araújo, além de Grace Jones, que teve uma era marcante usando o whiteface”, conta KING Saints. Essa pesquisa revelou uma conexão profunda com a questão racial no Brasil, ao abordar o uso do whiteface para representar elitização ou progresso financeiro entre mulheres negras.
“Esse conceito visual também se relaciona como um contraponto do blackface”, destaca, remetendo a uma história marcada pela representação caricata de pessoas negras.
KING Saints não evita temas complexos, mas sua abordagem mistura crítica e leveza. No álbum, há uma mistura ácida e divertida que permeia suas composições. “Eu acho que tem várias maneiras de abordar diferentes assuntos, e todas são válidas”, reflete.
Para ela, o humor é uma ferramenta poderosa de reflexão. “Eu preciso me divertir enquanto faço, e quero que as pessoas também se divirtam, mesmo que elas estejam entrando em um funil de crítica”, explica.
A artista também critica a forma como artistas negros são frequentemente limitados a determinados gêneros musicais no Brasil: “As pessoas ainda não conseguem enxergar um artista negro como um artista pop”, afirma. “O pop não é só música, é um movimento, uma cultura.”
O álbum de estreia de KING Saints é um manifesto cultural e social. A cantora busca romper com as limitações impostas a artistas negros no Brasil, ao mesmo tempo que presta homenagem às mulheres negras que abriram caminho antes dela.
Para a gente estar aqui hoje fazendo música, criticando, ocupando esses espaços, foi porque muitas mulheres, que a sociedade muitas vezes considerou malucas, raivosas ou mal-educadas, pavimentaram esse caminho
KING Saints
Essa consciência histórica permeia sua trajetória e a maneira como aborda a música. Para KING Saints, a luta atual é um desdobramento de um esforço coletivo que busca visibilidade e reconhecimento. “Talvez o que estamos plantando agora, não veremos em sua total magnitude. A gente espera ver uma parte disso, e que se reverta em algo concreto, para que possamos, sei lá, comprar uma casa legal, fazer uma viagem internacional com a família.”
“Esse é o grande passo que muitas dessas mulheres não conseguiram dar: desfrutar do que plantaram. Então, o que a gente espera agora é que nós também possamos comer um pedaço desse bolo.”
Ouça o disco Se Eu Fosse Uma Garota Branca: