m uma entrevista exclusiva para a CAPRICHO, Reddy Allor e Gabeu compartilharam os bastidores do lançamento de Cavalo de Troia, um álbum que mistura sertanejo com pop e outras influências modernas. O projeto marca um novo capítulo na carreira dos artistas, que colaboram em todas as faixas do disco.
“Está sendo incrível. É o sonho de todo artista que trabalha com música lançar o primeiro álbum”, contou Reddy, que já havia lançado dois EPs antes do disco. “Trabalhar com o Gabeu também está sendo muito legal. Nós temos uma conexão artística muito forte, e eu acho que a gente se entende muito bem, principalmente quando o assunto é música.”
Para Gabeu, que sempre quis fazer um álbum colaborativo, estar ao lado de Reddy nesse momento é especial. “Me sinto muito feliz de estar com ela nesse momento”, disse ele. O conceito para o trabalho surgiu de uma série de ideias compartilhadas entre os dois, misturando influências que vão desde a moda de viola até o pop mais contemporâneo. “Apesar de fazermos música incontestavelmente sertaneja, nossa abordagem é muito mais pop”, explicou Gabeu.
A dupla explica que o disco pode ser interpretado de diferentes maneiras, explorando temas como a luta e conquista das pessoas LGBT, além de abordar questões pessoais e amorosas. “É um álbum que, dependendo da bagagem de quem tá ouvindo, a pessoa pode sentir de sua própria maneira”, pontuou Gabeu.
Artistas como Gaby Amarantos, Alice Marcone e Romero Ferro também enriqueceram e fortaleceram as canções através de suas participações especiais. “Desde o começo, queríamos ter artistas no álbum que fossem importantes para nós nessa caminhada. Como estamos tentando invadir um sistema com nosso álbum, pensamos no conceito de ‘invasão’ e sabíamos que precisávamos de soldados, de uma equipe de batalha que desse conta do recado”, recordou Reddy.
A primeira colaboração foi com Alice Marcone em Descuido Seu, uma música que, segundo Reddy, “se encaixou perfeitamente na narrativa”. Para eles, trazer Alice, uma artista talentosa e multifacetada que estava afastada da música, foi muito simbólico.
Gabeu ainda mencionou sua relação especial com Romero Ferro, que foi um dos primeiros artistas a apoiá-lo: “Quando começamos a falar sobre o álbum, o nome do Romero surgiu naturalmente.” Romero contribuiu na faixa Me Devora, que, de acordo com Gabeu, “parecia perfeita para essa colaboração”.
Quando foi a vez de escolher um artista para Clichê dos Amores, Reddy e Gabeu consideraram vários nomes, mas decidiram por Gaby Amarantos. “Ela trouxe uma energia única para a música e para o clipe. Ela tem uma trajetória marcada pelo exagero em várias coisas, e nós amamos isso. Combina muito com o universo drag”, explicou Reddy.
Assim que o álbum foi lançado, Clichê dos Amores começou a gerar um burburinho online. Comentários como “eu não sabia que para eu gostar de sertanejo, bastava ver duas pessoas LGBTQ+ cantando”. Reddy achou “muito legal” ver as reações de surpresa e, para ela, isso é um sinal de que o álbum está gerando questionamentos importantes sobre gosto e identidade. “É sobre ver as pessoas LGBTQ+ questionando: ‘Meu Deus, eu gostei de um sertanejo, o que tá acontecendo na minha cabeça?’”.
Gabeu, por sua vez, comentou o choque entre o som e a imagem que provoca: “Quando a pessoa ouve a gente cantar e depois vê, é onde causa o choque.” Ele acha interessante causar essa sensação de estranhamento e dúvida, tanto no público LGBTQ+ que não consome sertanejo, quanto no público hetéro cis que ama sertanejo.
A estética visual de Cavalo de Troia combina elementos medievais e futuristas. Reddy destacou a ideia de misturar os significados do termo, que pode ser um vírus de computador ou uma estratégia de guerra medieval: “Na primeira parte, antes do interlúdio, tem uma vibe mais ‘cavalo’, e depois, no interlúdio, começa a vibe ‘Troia’.”
Gabeu acrescentou que o álbum combina três estéticas distintas: “A estética country, medieval e futurista. Inicialmente, essas três coisas não conversariam de jeito nenhum, mas dentro desse conceito faz todo sentido.” Ele detalhou que os visuais mudam conforme o contexto: “Na primeira parte a gente está numa coisa mais solar, de dia, e na cidade de Troia já é noite, uma vibe totalmente noturna.”
Gabeu e Reddy também discutiram como se sentiram como “cavalos de Troia” em suas carreiras. Gabeu relatou sua sensação de deslocamento desde a infância, afirmando: “Eu sempre me senti um cavalo de Troia, algo meio invasor. Não deveria estar ali, mas estava.” Reddy compartilhou uma experiência semelhante: “Sempre me senti estranha, apontada e julgada. Quando a drag surgiu na minha vida, eu fui chutando portas e tentando fazer o meu espaço.”