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Afinal, ‘couro vegano’ existe? E ele é mesmo sustentável?

Especialista em sustentabilidade fala sobre equívoco do uso do termo para designar produto livre de origem animal

Por Duda Cardim Atualizado em 29 out 2024, 18h11 - Publicado em 24 out 2023, 18h30

Provavelmente você já ouviu falar do termo “couro vegano”. Com um pretexto de sustentabilidade, vendem-se roupas, bolsas e até sapatos. Mas, você sabia que isso não existe? Descrever o material de um produto como ‘couro vegano‘ é errado e pode até ser crime, viu? A CAPRICHO esteve na palestra com o tema Do vegano ao greenwashing: explorando o termo ‘couro vegano’, que rolou durante o Fórum Fashion Revolution, e conversou com a especialista em sustentabilidade e moda circular Bethânia Rezek sobre o assunto.

O couro é um material utilizado na indústria da moda há muito tempo. Há quem diga que os egípcios usavam a matéria-prima desde 5 mil anos a.C. As peças feitas a partir da pele animal têm uma tendência a durar anos e já foram características de épocas importantes, como o movimento punk e os anos 60.

O vegetarianismo e o veganismo, que prezam pelo bem-estar animal e vão contra o consumo de carne e qualquer comida ou produto que tenha origem animal, surgem tendo também a sustentabilidade como princípio.

Por que couro vegano não existe?

O couro é definido como peles animais que passaram por processos físicos e químicos para prevenir o apodrecimento natural, o que é totalmente contrário ao veganismo. O estilo de vida se preocupa com uma responsabilidade moral e ética que tem como resultado o não consumo de produtos de origem animal, logo, o couro.

Assim, se para uma peça ser de couro ela deve vir de animais, e para um produto ser vegano ele tem que passar bem longe deles, Bethânia Rezek explica que a junção dos dois termos cria uma ideia equivocada. Justamente por isso, vender uma peça como “couro vegano” pode ser um crime. No Brasil, a lei nº4.888/1965 estabelece que é ilegal utilizar a expressão ‘couro’ para peças que não são de origem animal.

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Imagem de rawpixel.com no Freepik
Couro rawpixel / Freepik/Reprodução

O que seria esse ‘couro vegano’ então?

Os produtos que levam a descrição de ‘couro vegano’, na verdade, possuem materiais que são análogos ao couro. O uso do termo ‘vegano’ costuma funcionar para fazer um greenwashing, que significa associar o conceito de sustentabilidade de forma errada. No entanto, não há nada que garanta isso e, inclusive, dependendo, do material utilizado pode não ter nada de sustentável.

Os ‘couros fakes’, ou melhor, as imitações do couro, podem ter origem de matérias-primas como frutas e plantas. Por exemplo, o Piñatex, feito a partir do abacaxi, o Banofi, com fibra de bananeira, e o Desserto, do cacto. Esses, sim, são opções sustentáveis, ao contrário do PVC e do PU, que são plásticos derivados do petróleo e também são utilizados para imitar o couro.

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Woman tailor working on leather fabric
Couro senivpetro / Freepik/Reprodução

Vantagens e desvantagens

Apesar do termo ‘couro’ ir de encontro de ações veganas a favor dos animais, Bethânia Rezek afirma que “enquanto houver carne, haverá couro”. De acordo com ela, o grande problema de vender um produto por um nome que não corresponde é ludibriar o cliente a comprar algo que não é.

Apesar dos produtos análogos ao couro – que não são sintéticos – serem mais sustentáveis, há uma discussão sobre as vantagens e desvantagens de cada material. O produto de origem animal possui maior vida útil, sendo assim, de certa maneira, é mais sustentável. Em entrevista para a CH, Bethânia fala sobre os materiais análogos e orgânicos. “É muito difícil esse acesso, é muito caro. Então, fica restrito a uma população que tem um poder aquisitivo maior, é claro que elas serão opções melhores”.

Ainda nessa linha de raciocínio, a pesquisadora completa dizendo que “quando falamos de PU, PVC, aí eu já acho mais difícil, eu acho isso mais agressivo ao meio ambiente do que o couro animal”.

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