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Encontro do mundo da moda com o hip hop exalta ancestralidade e potência

CAPRICHO conversou com a rapper MC Soffia e a stylist Gabi Rocha, que são inspirações desse movimento.

Por Taya Nicaccio Atualizado em 7 ago 2023, 18h33 - Publicado em 17 jun 2022, 10h00

Para alguns, a cultura hip hop está entre as “tendências da vez” quando o assunto é moda e beleza. Mas este movimento – que nasceu nas ruas e é feito pelas pessoas – , não é algo só passageiro, mas sim, a expressão de uma cultura e um estilo de vida urbana e periférica. Quando ele chega às passarelas, é capaz de exaltar potência e celebrar a ancestralidade.

A CAPRICHO conversou com Gabi Rocha, stylist e figurinista e com a rapper MC Soffia, que desde os 6 anos é referência para milhares de meninas negras, para entender como ambas vivenciam a cena e como ela está relacionada à moda.

“Moda é comportamento, política, cultura e a comunidade preta, desde o surgimento do movimento, vem potencializando e criando linguagens artísticas. Sempre com influências de nossa ancestralidade”, afirma Gabi. “A sonoridade, a estética, a expressão corporal, todos esses elementos bebem da fonte [da cultura] preta, e com a moda não é diferente. Impossível separar todas essas linguagens.”

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Para MC Soffia, moda e hip hop estão interligados porque “o movimento traz muita referência de negros americanos [estadunidenses]”. Ela conta que peças como o jaco, calça larga, colar e tênis são grandes características dele, e, assim como no Brasil, referências do funk também se fazem presentes. 

“No rap, por exemplo, usa-se muito [marcas como] Lacoste, Mizuno e Ciclone. Acho que a moda está muito interligada com a música, porque cada artista mostra o que é para o público através do seu look.”

Imagem mostra MC Soffia...
MC Soffia fala sobre hip hop, moda, potencialidades e ancestralidade @mcsoffia/Reprodução

Tudo começou em 1970…

Agora nós vamos voltar no tempo. Mais precisamente em meados dos anos 1970 nos subúrbios negros e latinos de Nova York. Sim, foi lá que tudo começou. Séries e documentários como The Get Down (Netflix) e Hip-hop evolution (Netflix)- lembra deles? – mostram em detalhes o surgimento, a evolução do gênero musical e como a estética e o estilo do movimento abraçam a comunidade negra.

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“O hip hop, para além de um estilo musical, é, sim, uma cultura de resistência e traz consigo quatro elementos que contribuem até hoje para construção da autoestima da comunidade preta”, conta Gabi.

The Get Down Netflix
The Get Down, série da Netflix sobre cultura negra dos anos 1970. Netflix/Reprodução

Entre esses elementos citados por ela estão o grafite (que é a expressão pela arte, com cores e texturas), o DJ (sigla para Disk Jockey, o responsável por criar as batidas das músicas das festas), o MC (sigla para Mestre de Cerimônias, que é considerado como aquele que leva o pensamento adiante) e, claro, os b-boys e as b-girls (que são representam a linguagem da dança – em especial, o breaking). 

Mas engana-se quem pensa que a moda do hip hop está só nos palcos. Para Gabi Rocha, ela vai além. “A moda do hip hop está nas ruas, nos bailes e coletivos que se expressam artisticamente através do movimento. A cultura [negra] é muito rica, impossível se restringir a um lugar só”, explica.

“Falando de moda, especificamente, não é à toa que a indústria do luxo resolveu investir (e se apropriar) nesse nicho. É autêntico, é criativo, e eles viram um modo de capitalizar nossa cultura para fazer dinheiro. Mais um jeito de se apropriar e não exaltar nem devolver para comunidade, que realmente vive a cultura, os créditos.”.

Já Soffia, que gosta de uma moda futurista e de se inspirar em artistas internacionais – desde o continente africano à América do Norte -, conta que suas referências, de alguma maneira, também se refletem no figurino de seu balé. 

A mensagem que quero passar para o público faz parte da coreografia dos shows e do figurino escolhido somado às expressões corporais de cada bailarina”, detalha. Dá só uma olhada na paleta de cores, shape e recorte das peças: 

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Mas nem só de referências vive o movimento…

Em um contexto em que as pessoas ainda associam o hip hop exclusivamente ao gênero masculino, perguntamos para MC Soffia e Gabi Rocha como ambas enxergam a participação e a aceitação das mulheres negras na cena do movimento e no set.

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Para Gabi, estamos conquistando aos poucos esses espaços, tudo “graças a grandes mulheres que abriram os caminhos e firmaram o terreno para que a gente pudesse chegar.” Ainda assim, a cena é muito machista. “Quando fazemos o recorte de raça é ainda pior, um show de horror. Rola muita apropriação de quem nunca fez nada pela cultura [negra]. Precisamos falar sobre e estarmos atentos.”

As mulheres pretas na cena do hip hop deveriam ser mais valorizadas, aponta MC Soffia. “Penso que os caras têm que valorizar as mulheres, e as minas se valorizarem também. [Nós mulheres] precisamos cada vez mais poder nos expressarmos da forma que quisermos na música. Ser livre mesmo. A música é um modo de expressão. Então, eu enxergo que [a música e as mulheres] precisam ser mais valorizadas, principalmente no Brasil.”.

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