Chavoso da USP critica Ainda Estou Aqui e gera debate de classe nas redes

Influenciador e estudante da Universidade de São Paulo afirma que pessoas periféricas vivem ainda hoje os horrores da ditadura retratados no filme.

Por Andréa Martinelli 23 dez 2024, 06h00
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hiago Torres, conhecido como Chavoso da USP, não gostou de Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles que, recentemente, colocou o Brasil novamente na rota de premiações internacionais de cinema após 25 anos. Em vídeo no YouTube, ele explica que se incomodou com a perspectiva de classe média alta branca da obra e foi tanto apoiado, quanto criticado nas redes.

Segundo ele, para a maioria da população negra e pobre do Brasil, a violência policial e a repressão continuam sendo uma realidade, mesmo depois do fim da ditadura militar. Ele usa como exemplo os casos recentes de violência policial que vêm acontecendo em cidades pelo Brasil, especialmente contra homens negros, jovens e periféricos.

“Imagem, impecável, atuações, impecável. O assunto do filme, de modo geral, é extremamente necessário. Falar sobre a ditadura empresarial-militar sempre vai ser algo necessário. Manter viva essa memória e ressaltar que os militares não foram punidos, nota dez para tudo isso”, afirma Thiago Torres no início do vídeo.

Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles, ganhou muita projeção não só por ter Fernanda Torres no elenco, como também sua indicação a Melhor Atriz no Globo de Ouro e seu favoritismo para o Oscar 2025.

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O filme, em si, também é um dos preferidos da crítica para levar a estatueta na categoria de melhor filme internacional. O vídeo do Chavoso sobre o filme tem restrição de idade, então, você precisa clicar aqui para assistir ao vídeo.

Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme narra a história real de Eunice Paiva, vivida por Torres, uma mulher que enfrenta o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, durante a ditadura militar brasileira nos anos 1970.

Logo no início do vídeo, Torres fala sobre a Rede Globo e retoma as origens do diretor, Walter Salles, que é da família Moreira Salles, uma das donas do banco Itaú. O influenciador ainda afirma que há poucos personagens negros e lamenta que o filme não tenha abordado com mais profundidade a atuação de Eunice Paiva em prol da causa indígena.

“É retratada uma família branca, de classe média alta, que viaja com frequência para a Europa. Uma família perfeita e feliz que tem sua paz interrompida pela ditadura”, afirma. “O que eles passaram ali não me comoveu. O que eles retrataram como algo do passado, a gente hoje passa dez vezes mais na favela.”

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Em seguida, Chavoso lista quais são os pontos semelhantes à realidade atual vivida nas periferias e podem ser comparadas à violência na ditadura:

  • Policiais enquadrando jovens em uma blitz e agindo com ignorância;
  • Policiais entrando em uma casa sem mandado judicial e sem se identificarem;
  • Policiais levando pessoas sem dizer porque e para onde;
  • Policiais interrogando pessoas de forma intimidatória e ameaçadora;
  • Pessoas sendo presa e sem direito à defesa;
  • Pessoas sendo torturadas.

“O que citei aqui que não continua sendo a realidade nas favelas, periferias, aldeias, regiões empobrecidas e marginalizadas?”, questiona o influenciador, ao dar continuidade ao seu ponto de vista sobre o filme.

No X (Ex-Twitter), uma crítica ao vídeo viralizou, afirmando que ele tem “a profundidade de um pires”. Outras, optaram por debochar do ponto de vista de Chavoso e outras rebateram ou defenderam, com argumentos mais profundos. Olha só:

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Uma usuária defendeu a perspectiva de Chavoso:

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Já o youtuber e influenciador Gustavo Gaiofato também publicou uma thread no X apoiando o colega.

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Um dos comentários no vídeo rebate o comentário de Chavoso, de forma propositiva: “Acho que o problema não está nesse filme em si. É legítimo pegar recortes de uma história para se contar no cinema, teatro, etc. O problema é a falta de mais produções artísticas contando essas outras perspectivas.”

E você, leitor e leitora de CAPRICHO, o que pensa sobre? Conte para nós:

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