Cidades pelo Brasil querem impedir o uso da linguagem neutra nas escolas

Pelo menos 18 municípios criaram normas que proíbem na grade curricular ou em material didático. Vem entender.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 29 out 2024, 15h47 - Publicado em 21 Maio 2024, 06h00
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elo menos 18 cidades espalhadas pelo país já emitiram normas para proibir o uso da linguagem neutra de gênero nas escolas públicas ou privadas e também em qualquer outra atividade promovida e que receba verba do município.

Mas você, leitor e leitora de CAPRICHO, pode estar se perguntando: ué, mas isso é função do município? Por que seria um problema usar uma linguagem que tem a intenção de ser mais inclusiva?

Nesta semana, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu duas leis municipais que proíbem o uso e o ensino da linguagem neutra na administração pública e nas escolas públicas e privadas, o que ajuda a nossa reportagem a responder a questionamentos importantes sobre a questão.

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As normas que chegaram até o STF são dos municípios de Ibirité (MG) e de Águas Lindas (GO), mas existem outras 16 que ainda serão julgadas pela corte.

Já aprovadas e em vigor em alguns municípios, estas medidas surfam na onda do movimento “Escola Sem Partido” e visam impedem o uso da linguagem neutra na grade curricular ou material didático das escolas públicas e privadas, em editais de concurso público, ações culturais, esportivas ou sociais. Ou seja, termos como “todes”, por exemplo, são proibidos.

Duas organizações do movimento LGBT no Brasil, a Aliança Nacional LGBTI+ (ALIANÇA) e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH) apresentaram uma ação contra cada uma das leis estaduais e municipais que, de alguma forma, impedem o uso ou o ensino da linguagem neutra, ou inclusiva, ao STF.

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Estas normas “ferem a Constituição, representam censura à liberdade de ensino e violam direitos como o da dignidade da pessoa humana”, afirmam as organizações em documento apresentado à corte suprema. 

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Na decisão que derrubou duas das normas questionadas, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que “competência para legislar sobre normas gerais sobre educação e ensino é da União” e não dos municípios ou estados.

Ele também lembrou que já há uma lei sobre o tema – a já conhecida “Lei de Diretrizes e Bases da Educação”, que é quem determina o que deve ser ensinado nas salas de aula, seguindo orientações do Sistema Nacional de Educação.

“Municípios não dispõem de competência legislativa para a edição de normas que tratem de currículos, conteúdos programáticos, metodologias de ensino ou modos de exercício da atividade docente”, pontuou o ministro. “A eventual necessidade de suplementação da legislação federal, com vistas à regulamentação de interesse local, jamais justificaria a edição de proibição a conteúdo pedagógico.”

Aqui na CAPRICHO e também no Guia do Estudante, a gente já te explicou que a linguagem neutra é uma forma de comunicação que busca adotar termos neutros no lugar de expressões femininas ou masculinas construídas de forma que marcam o gênero das pessoas a quem nos referimos (por exemplo, artigos e pronomes com marcadores de gênero). 

A ideia é tornar a linguagem inclusiva, para evitar a discriminação de pessoas com base em sua identidade de gênero, sexualidade, ou outros aspectos de identidade. 

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As associações, junto ao STF, também questionam uma lei estadual do Amazonas e leis municipais nos mesmos moldes das seguintes cidades pelo país:

  • Balneário Camboriú (SC);
  • Belo Horizonte (MG);
  • Betim (MG);
  • Boa Vista (RR);
  • Jundiaí (SP);
  • Marituba (PA);
  • Muriaé (MG);
  • Navegantes (SC);
  • Novo Gama (GO);
  • Petrópolis (RJ);
  • Porto Alegre (RS);
  • Rondonópolis (MT);
  • São Gonçalo (RJ);
  • Uberlândia (MG); e
  • Votorantim (SP).
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