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Discurso vazio de famosos sobre Israel x Hamas não merecem a sua atenção

Escolher um lado baseado em sua afinidade com determinada personalidade, sem contexto, pode ser arriscado.

Por Arthur Ferreira, Andréa Martinelli Atualizado em 29 out 2024, 18h01 - Publicado em 20 dez 2023, 11h47

Desde que a guerra entre Israel e Hamas se estabeleceu, celebridades e personalidades influentes vieram a público expressar sua visão sobre o conflito e, ok, esta não é a primeira vez que pessoas públicas e com alcance significativo nas redes sociais falam abertamente sobre um tema complexo e recebem atenção pelo que dizem.

Mas diante de um assunto tão delicado, posicionamentos vazios ou até tendenciosos da sua celebridade preferida nem sempre precisam ser levados em consideração.

Isso porque o assunto é muito mais complexo do que parece (a gente te explica mais aqui)– e escolher um lado baseado em sua afinidade com determinada personalidade, sem contexto, pode ser arriscado e influenciar pessoas de forma equivocada.

E aqui vai um spoiler: até seu artista preferido não é obrigado a saber ou a se posicionar sobre tudo, ok? Mas uma dose de responsabilidade é importante em muitos dos casos envolvendo uma visão política, econômica e conflitos mundiais, que afetam a vida de todos.

Demissões, cancelamentos e cobrança dos fãs

O mundo do entretenimento ficou em choque com a demissão da atriz Melissa Barrera, ainda durante as gravações de Pânico 7, franquia a qual a atriz interpretava Sam, a protagonista dos últimos filmes.

O desligamento ocorreu após ela fazer publicações em suas redes sociais sobre o conflito entre Israel e Hamas, criticando os ataques à Faixa de Gaza e classificando o caso como “genocídio e limpeza étnica”.

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A demissão foi uma decisão tomada pela Spyglass Media Group, produtora do filme que justificou que as postagens de Barrera foram interpretadas por eles como antissemitas. Após a repercussão, Barrera postou um texto em suas redes sociais onde deixou claro para aqueles que a criticaram por deixar pública a sua posição política: “O silêncio não é uma opção para mim.”

Barrera não foi a única a artista a se posicionar sobre o conflito. De acordo com o Deadline, além de Melissa, a atriz Susan Sarandon também foi desligada da maior agência de Hollywood, a UTA (United Talent Agency), por ter demonstrado apoio à Palestina.

A icônica atriz de 77 anos e vencedora do Oscar, tem participado de protestos nos Estados Unidos defendendo o povo palestino e teria sido dispensada após uma publicação que dizia: “Mantenha a Palestina em seus corações, reze pelos palestinos… E obrigada à comunidade judaica que está nos apoiando”.

Pois é. Além da situação com Barrera, outra celebridade chamou a atenção ao falar sobre a guerra. A atriz, cantora e empresária Selena Gomez, foi alvo de inúmeras críticas nas redes sociais ao se posicionar sobre o assunto de forma… vazia.

Em um story, Gomez escreveu que “precisamos proteger todas as pessoas, especialmente as crianças, e acabar com a violência para sempre. Sinto muito se minhas palavras nunca serão suficientes para todos ou para uma hashtag. Eu simplesmente não suporto que pessoas inocentes se machuquem. É isso que me deixa doente. Eu gostaria de poder mudar o mundo. Mas uma postagem não.”

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Depois de compartilhar, Selena recebeu algumas criticas de seus fãs que alegaram ser uma “posição irresponsável vinda da terceira pessoa mais seguida da rede social”. Muitos alegaram que sua influência poderia ter sido usada para humanizar os palestinos e pressionar o governo dos EUA para um possível cessar-fogo, o que não aconteceu.

Depois da repercussão, Gomez respondeu com outro story, afirmando que “estou fazendo uma pausa e excluindo meu Instagram. Terminei. Eu não apoio nada do que está acontecendo.”

Um pouco de contexto sobre Israel e Palestina

Não dá para falar sobre esse conflito sem voltar alguns (muitos) anos na história daquela região. O que chamamos hoje de Israel e Palestina é, na verdade, uma área do Oriente Médio originalmente povoada pelos palestinos, que foi colonizada pelo movimento sionista – isto é, do povo judeu –, que surgiu no final do século XIX.

E, ao contrário do que muita gente pensa, essa história tem pouco a ver com religião. “O movimento sionista, em aliança com o imperialismo do momento (Grã-Bretanha depois da Primeira Guerra Mundial e, hoje, os EUA), visava a conquista da terra e do trabalho na Palestina histórica, através do que eles chamavam de transferência populacional – ou seja, imigração de judeus da Europa do Leste e Central para a Palestina e expulsão dos palestinos nativos não judeus para fora das suas terras via limpeza étnica”, explica Soraya Misleh, jornalista palestino-brasileira, mestre e doutora em Estudos Árabes pela Universidade de São Paulo (USP).

O objetivo com esse movimento era claro: um estado étnico e homogêneo, de maioria judaica – no que também é chamado de “colonização por povoamento”.

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Mas não para por aí. Em novembro de 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Assembleia Geral das Nações Unidas recomendou a partilha da região conhecida como Palestina em um estado judeu (56%) e outro árabe (44%), em uma sessão presidida pelo diplomata brasileiro Osvaldo Aranha.

O plot twist? Os habitantes nativos nunca foram consultados sobre o assunto. 

Poucas horas após a invasão de Hamas à Israel, Kylie Jenner se pronunciou sobre o conflito nos stories de seu Instagram. A modelo compartilhou um post que trazia a mensagem “Agora e sempre, nós estamos com o povo de Israel!”, mas logo começou a receber inúmera críticas nas redes sociais e apagou o story.

Noah Schnapp, estrela de Stranger Things chamou a atenção dos fãs das redes sociais após curtir publicações que faziam piada com a população palestina e seus apoiadores.

Após ser criticado por seu seguidores, que buscavam uma justificativa e um posicionamento, o ator publicou um vídeo em que aparece junto a amigos brincando com adesivos com as frases “Hamas é o Isis” e “sionismo é sexy”.

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O sionismo é um movimento surgido na Europa no século 19 que defende a criação de um Estado judeu independente. Especialistas associam o sionismo a uma política colonizadora, justamente por causa da relação de Israel com a Palestina (a gente te explica aqui.)

Gigi Hadid, a modelo de ascendência árabe usou seu Instagram para mostrar seu posicionamento pró-Palestina e defendeu que isso não significa ser anti-semita. Hadid prestou solidariedade “com todos aqueles que estão sendo afetados por esta injustificada tragédia”.

A página oficial do Estado de Israel respondeu sua publicação no Instagram dizendo: “Você estava dormindo na última semana? Ou você acha certo fechar os olhos para bebês judeus sendo massacrados em suas casas? Seu silêncio tem sido muito claro sobre de qual lado você está. Nós estamos vendo você”. Logo depois a modelo fechou os comentários da publicação.

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Viu só como é mais complexo do que parece? Antes de escolhermos lados ou entrarmos em (mais) uma discussão nas redes sociais sobre o assunto, é essencial entender o que, de fato, está acontecendo e quais são as possíveis soluções.

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