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É preciso colocar a juventude negra como prioridade nas eleições de 2022

"Não há cropped que nos faça reagir se não tivermos o básico", afirma a estudante Janaina Bernardino, em 1ª análise do cenário político para a CAPRICHO.

Por Janaina Bernardino, especial para a CAPRICHO Atualizado em 26 jan 2023, 20h26 - Publicado em 23 set 2022, 06h00
pessoas negras política
“Emicida dá a palavra, sem massagem, ao dizer que “tudo que nós temos é nós”.” GettyImages/CAPRICHO

Talvez a minha história seja um retrato parecido a de tantos outros jovens negros e periféricos. Estamos construindo tudo do zero e buscando formas de coexistência frente a uma estrutura que invisibiliza nossas vivências e desconsidera nossas especificidades.

No meio do luto, da fome, do desemprego, da falta de acessos em diversos setores e de todos os famosos “corres” intermináveis, encontramos suporte no coletivo, enquanto reivindicamos políticas públicas que, de fato e no ato, olhem para as nossas demandas e as centralizem como prioridade.

Após dois anos de pandemia, em que a Covid-19 escancarou, mais uma vez, a desigualdade, estamos aos poucos nos recuperando dos tombos – se assim posso dizer. E, não há cropped que nos faça reagir se não tivermos o básico dos direitos em mãos. É preciso muito mais. É preciso um olhar que vá na contra mão de tudo aquilo que ignora os nossos modos de vida.

É preciso uma política antirracista que seja aliada e combativa ao racismo de todos os dias. É necessário, mais do que nunca, representantes que sejam ‘gente como a gente’: de black, de trança ou turbante, retinto ou não, que entenda e que saiba como é ser preto nesse mundão. Que entenda como os marcadores sociais, de raça, gênero e classe, quando conectados, apontam algumas problemáticas.

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Na ausência dos nossos, pessoas pretas, na política o sentimento que fica é que nunca nos sonharam. Não foi um sonho jovens negros nas principais universidades do país. Para eles, é uma afronta sermos a geração de primeiros, mesmo tudo isso sendo muito pouco, ou quando ocupando cargos de lideranças. Não é uma vontade estarmos, ativamente, nas tomadas de decisão. Um exemplo é a eleição de 2020, em que 84,4% mulheres negras se candidataram como vereadoras no Brasil, mas apenas 6% foram eleitas. Nas prefeituras, elas formam o grupo menos representado com 4%. A conta não fecha levando em consideração a grandiosidade da negritude.

Tudo é programado para que fiquemos sempre em branco. Não à toa que as pautas raciais não foram, minimamente, citadas nos debates entre os candidatos que dizem ser pelo o povo, no país em que a comunidade negra ocupa mais de 56% da população, segundo dados do IBGE.

Um silêncio total para a democracia que tantos pregam, mas acima de tudo, um vácuo estrondoso sobre a mortalidade de jovens negros, violência, política de drogas, alto índice de encarceramento em massa, sistema de saúde, educação e uma estrutura antirracista que protegem os nossos corpos.

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Emicida dá a palavra, sem massagem, ao dizer que “tudo que nós temos é nós”. E a recíproca é verdadeira. Desde as eleições de 2014, a autodeclaração de raça foi colocada em vigor, mas é 2022 que pela primeira vez, candidaturas negras superam números de candidatura brancas nas eleições. Apesar dos retrocessos em pleno o século XXI, ainda podemos nos esperançar, temos a chance  de pintar o sete novamente.

Para a disputa eleitoral, 49,49% dos candidatos se autodeclaram negros, enquanto os que se declaram brancos são 48 ,93%, segundo dados do Tribual Superior Eleitoral (TSE). Para este ano, temos lideranças em toda parte do Brasil para somar. Gosto de pensar que esses dados são como uma porta entreaberta para coisas melhores, maiores e que juntos possamos escancarar.

Gosto de acreditar que isso é um abraço para nós, jovens, tão destemidos, pra frente e conscientes, guerrilhando pelos seus direitos. E o mais importante: anseio, grandiosamente, para que possamos fazer parte de estatísticas positivas e contrariar as negativas. Se, de fato, a representatividade for uma revolução – como eu acredito que seja – milhares de sementes foram plantadas.

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É possível construir moldes transformadores para a configuração de um cenário que destaca toda potência e excelência da comunidade negra. Ainda é possível sonhar e realizar, por nós mesmos, impulsionar os mais novos para que eles possam trilhar um caminho vivendo. E não sobrevivendo.

Que possamos, agora, superar nas urnas. Que possamos enegrecer a política!

*Oiê, leitora de CAPRICHO. Este texto foi escrito por uma colaboradora do nosso site voltado ao público jovem com a intenção de diversificar o nosso público e trazer discussões significativas para a juventude refletir o mundo de hoje. Ele não necessariamente reflete o posicionamento editorial do Grupo Abril.

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