ara a australiana Mary Fowler, jogadora de futebol feminino do Manchester City, a Copa do Mundo de Futebol Feminino 2023 deverá abrir portas e oportunidades para uma próxima geração de meninas que sonham em viver da bola no pé. (E isso é algo super importante, viu?)
O esporte feminino tem se desenvolvido ao longo dos anos, incluindo maior interesse de marcas, mídia e público, – um combo que pode finalmente surtir efeito na equiparação de oportunidades com a modalidade masculina.
Fowler, de 19 anos, é também uma das jogadoras da seleção australiana de futebol feminino, que, neste ano, jogará em casa na Copa do Mundo – o evento será sediado na Austrália e na Nova Zelândia, entre 20 de julho e 20 de agosto.
Ela, que mesmo novinha já é uma das embaixadoras da Adidas, conversou com a CAPRICHO com exclusividade, em um papo descontraído sobre a preparação e as expectativas para a Copa do Mundo – e para a modalidade – ela também reconheceu que apesar dos avanços do futebol feminino como um todo “ainda temos um longo caminho a percorrer”, disse.
Atualmente ela mora na Inglaterra, onde joga desde junho de 2022 no Manchester City na posição de atacante. De lá para cá, ela segue uma rotina “dura” de treinos, algo que ela já está acostumada, já que treina desde criança e sonhou por muitos anos em jogar profissionalmente. “Eu acho que essa Copa do Mundo será muito emocionante. A modalidade feminina tem crescido tanto nos últimos anos e eu acho que as pessoas estão começando a se dar conta de que o futebol feminino é na verdade divertido de assistir”.
Eu sei que tenho mais do que suficiente na posição que estou hoje, mas eu sei também que existem muitas meninas e mulheres que estão ou não jogando profissionalmente que não recebem o mesmo tratamento que eu
Mary Fowler, jogadora do Manchester City
Mary conta que, se pudesse, diria para a versão dela de 14 anos (apenas cinco anos de onde ela está hoje, dá pra acreditar?) para continuar realizando treinos extras que eles “definitivamente valeram a pena”. “É algo que eu falo até hoje para mim mesma: fazer algo hoje que a minha futura eu ficaria orgulhosa e eu com certeza olho para trás e fico muito orgulhosa por todo esforço da minha eu de 14 anos”, conta.
Neste mês, Fowler foi convidada para ser uma das embaixadoras da linha de Sportswear da Adidas ao lado da atriz Jenna Ortega (nossa eterna Wandinha), a streamer brasileira Carol Voltan e o jogador de basque Trae Young. A nova linha é uma novidade da marca, que aposta em uma pegada de roupas e tênis versáteis para o dia a dia. Algo que, para a jogadora de futebol feminino tem total relação com ela, que se vê como uma pessoa criativa e expressiva na forma de ser e estar no mundo.
Modalidade em ascensão no Brasil
A percepção de Fowler sobre como ainda existe um longo caminho para o futebol feminino não poderia ser mais certeira. No Brasil, por exemplo, a modalidade passou por um crescimento expressivo, mas ainda recente, com canais de televisão interessados em transmitir jogos e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se engajando em levar a modalidade de Norte ao Sul do país.
A organização tem, inclusive, se movimentado para tornar uma exceção em regra: que todos os times das séries A, B, C e D sejam obrigados a ter uma equipe feminina em seu portfólio – algo que deve começar a valer só em 2027 (mas mesmo assim, se concretizado, um avanço e tanto, né?)
Essa possível mudança da CBF faz parte de um movimento que vem sendo desenhado há alguns anos. Em 2016, a Conmebol decidiu que todos os clubes masculinos participantes da Copa Libertadores da América seriam obrigados a ter uma equipe feminina – essa decisão começou a valer em 2019.
O público também tem se interessado mais pela modalidade: no ano passado, 41.070 pessoas se juntaram para assistir à final do Brasileirão feminino entre Corinthians e Internacional na Neo Química Arena – foi o recorde de público da modalidade sul-americana.
Historicamente, a modalidade enfrentou diversos percalços. As mulheres passaram 38 anos proibidas de jogar futebol no Brasil- e qualquer outro esporte que exigisse força – por irem contra a ”natureza feminina” e “prejudicar a maternidade”.
De 1941 a 1979, vigorou uma lei que não permitia as mulheres de ocuparem esses espaços – nesse mesmo período, a seleção brasileira de futebol masculina recebia holofotes e investimentos por terem vencido as Copas de 1958, 1962 e 1970.
Ainda um longo caminho a ser percorrido
De lá pra cá, a seleção brasileira vem ganhando investimentos, mas ainda muito tímido quando comparado aos homens. A título de comparação, um levantamento do portal Gênero e Número de 2016 mostrou que enquanto Neymar recebia 14,5 milhões de dólares por ano, a principal jogadora da seleção feminina, Marta, ganhava 400 mil dólares.
Essa busca pela equidade salarial – dentro e fora dos campos – segue acontecendo em todo mundo. Em 2022, a Federação de Futebol dos EUA decidiu pela equiparação salarial entre as modalidades feminina e masculina. A decisão ocorreu após manifestações das jogadoras da seleção feminina, impulsionadas pela figura de Meghan Rapinoe e o movimento #EqualPay.
No mundo, porém, parece que ainda temos, de fato, um longo caminho a ser percorrido: a Federação Internacional de Futebol (FIFA) premiou a Argentina – que foi a campeã da Copa do ano passado – em 400 milhões de dólares – ou 1,9 bilhão de reais. Neste ano, o time vencedor da Copa do Mundo feminina receberá 60 milhões de dólares, ou, 297 milhões de reais.