Em 2021 houve um acordo entre os países que participam da COP (Conferência do Clima da ONU) de juntar esforços e frear o aumento da temperatura global para, no máximo, 1.5 graus Celsius. Esse é o limite para os piores desastres ambientais e que só será atingido se cortarmos as emissões de carbono em 50% até 2030.
Naquele contexto, a ideia também foi revisitar essa meta – e os esforços feitos para alcança-la – todos os anos e aprimorar o ações já realizadas ou ainda em andamento. No entanto, apesar de tentativas da Índia, Estados Unidos e da União Europeia, o que aconteceu foi um fracasso de reduzir emissões de carbono e aumentar a régua das ações até agora.
Damian Carrington, editor da seção de meio-ambiente do jornal britânico The Guardian, escreveu que “enquanto a história da crise climática está sendo escrita, a COP 27 [realizada neste ano de 2022] será vista como o momento em que o sonho de manter o aquecimento global abaixo de 1.5ºC morreu”.
Pois é. Um estudo divulgado pela ONU no mês passado chegou à conclusão de que não há um “caminho credível” para atingir essa meta. Em um cenário futuro baseado nas políticas climáticas que temos hoje, estima-se que o aumento da temperatura chegará a 2.8ºC. Dá pra acreditar? Isso devastaria ecossistemas e ameaçaria a vida de bilhões de pessoas no mundo todo.
Mas eu ainda gosto de pensar que, apesar do sonho do 1.5ºC ter ficado para trás até o momento, a esperança continua vivíssima. O melhor caminho é seguir as palavras do escritor Ariano Suassuna e sermos uma juventude que cultiva o que ele chama de “realistas esperançosos”. O clássico: sei que está ruim, mas vou salvar o que eu consigo no momento. E como diz Marina Silva, as respostas técnicas de como fazer nós já temos, só nos falta implementá-las.
Mas o que nos impede de atingir essa meta, CAPRICHO?
Um dos pontos que nos impede de atingir as nossas metas climáticas é uma pedra (política e econômica) no sapato do consenso internacional: a (extremamente lucrativa) indústria dos combustíveis fósseis. Para que você entenda: o petróleo é, na atualidade, o combustível fóssil de maior aplicação comercial. Ou seja, é o que mais polui e o que mais vende.
Neste ano, o a decisão final da COP27 previu apenas um esforço para utilizar energias de baixa emissão de carbono, o que pode ir desde energia nuclear até solar. Podemos também entender que o gás natural se encaixa nessa categoria, afinal ele emite menos do que o carvão, mas ainda é um combustível fóssil. Assim, diversos países com reservas de gás natural pretendem explorar essas fontes com o aval da comunidade internacional.
Os acordos realizados no ano passado durante a conferência do clima marcaram a primeira vez em que uma resolução sobre combustíveis fósseis foi incluída no texto final de decisão entre países. Mas apesar do esforço da Índia em tentar retomar o assunto neste ano, diversas nações exportadoras de petróleo, com destaque para a Arábia Saudita, conseguiram se articular para que tais medidas não fossem aprovadas em 2022. Ou seja, elas ficaram de fora do acordo atual.
Kathy Jetnil-Kijiner, Embaixadora de Clima das Ilhas Marshall, afirmou que gostaria que “tivéssemos eliminado os combustíveis fósseis. Mas mostramos com o fundo de perdas e danos que podemos fazer o impossível. Portanto, sabemos que podemos voltar no próximo ano e nos livrar dos combustíveis fósseis de uma vez por todas.”
Martin Kaiser, diretor do Greenpeace Alemanha afirmou que os países mais ricos “impediram uma decisão clara sobre a eliminação urgente e necessária de carvão, petróleo e gás”, acrescentando que isso “arrisca, sem cuidado nenhum, a adesão ao limite de 1.5 graus.”
Junto com a Girl Up Brasil a CAPRICHO, foi acompanhar o evento de perto no Egito – apesar ser burocrático e com foco em negociações, deu pra sentir que a juventude presente vem tentando mudar isso e trazer debates e experiências que podem pautar um futuro garantido para todos nós (inclusive, escrevemos sobre isso aqui no primeiro texto na cobertura). Mas parece que as negociações nunca vão deixar de pegar fogo. E talvez o mundo queime também.