Quando a gente fala em feriado da Independência… bate um sentimento esquisito por aí também? Pois é, nos últimos quatro anos, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, parte da população viveu com entusiasmo e excitação essa data – que passou a cultuar o militarismo e serviu de plataforma política – enquanto um outro lado sentia decepção e estranheza.
Aconteceu o mesmo com a camiseta da Seleção Brasileira – usar a blusa verde e amarela virou um símbolo de apoio às agendas conservadoras e, ainda hoje, é estranho considerar usar o uniforme tão famoso do nosso futebol, mas há tentativas de ressignificar alguns dos símbolos nacionais como este.
Este ano, porém, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ideia é “resgatar os valores da República”. O governo anunciou que será um desfile tradicional cívico e não militar, como nos últimos anos.
Em pronunciamento em rede nacional na noite desta quarta-feira (6), véspera do feriado, ele afirmou que “democracia não é apenas a matéria prima dos nossos sonhos, é também a ferramenta para torná-los realidade” e que comemorar o 7 de setembro é “defender a nossa soberania.”
Ele, no entanto, não fez alusão direta ao governo anterior ou ideais políticos ou morais que possam alimentar as controvérsias que geraram a polarização política que vemos hoje no país. O foco do discurso foram as ações promovidas pelo governo em relação à economia e em mostrar, de forma indireta, que há um projeto de governo e planos para o futuro.
E agora, CAPRICHO, como será?
Ainda é incerto se o presidente Lula vai participar presencialmente de outros eventos do 7 de setembro além do tradicional Desfile Cívico. A dúvida não é em relação à agenda do presidente, mas, sim, um esquema tático de segurança e uma forma de amenizar os ânimos, tão inflamados por conta da última eleição presidencial.
É importante considerar também que já foram anunciados atos tanto de apoiadores e simpatizantes do petista quanto dos apoiadores de Bolsonaro, que este ano foi considerado inelegível até 2030.
No ano passado, Jair Bolsonaro gastou uma fortuna dos cofres públicos para, dentre outras coisas, levar o ato de 7 de setembro para a praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Por lá, o evento costuma acontecer no centro da cidade, e a mudança foi considerada uma tática para “causar” mais na cidade, além de garantir a reeleição (o que não aconteceu). Em 2023, porém, o evento volta a acontecer no lugar de origem.
Exaltar esses símbolos nacionais é fundamental para reavivar o que está na Constituição brasileira
Paulo Pimenta
Outro ponto importante é a retomada dos símbolos da democracia brasileira: “[Serão] resgatados os valores da República, os símbolos oficiais, como a Bandeira do Brasil e o Hino Nacional, que sempre foram de todos nós e que contam nossa história”, explicou o ministro da Secretaria de Comunicação do governo, Paulo Pimenta, à imprensa. “Exaltar esses símbolos nacionais é fundamental para reavivar o que está na Constituição brasileira.”
O slogan do Desfile Cívico deste ano, segundo o site do Senado Federal, é “Democracia, Soberania e União”, e a ideia é que ele dure menos de duas horas – um tempo menor do que os desfiles de anos anteriores. A expectativa é que o público também seja menor: 30 mil pessoas são esperadas na Esplanada dos Três Poderes.
Outro ponto importante é que, este ano, o desfile será dividido em diferentes eixos temáticos que vão reforçar as mensagens que o atual governo Lula defende: “Paz e Soberania”, “Ciência e Tecnologia”, “Saúde e Vacinação” e “Defesa da Amazônia”. Ou seja, quase o exato oposto do que o antigo presidente defendia.
7 de setembro: uma data polêmica?
Vamos primeiro relembrar o que aconteceu nos anos anteriores, incluindo os anos de pandemia? Com a conexão de Jair Bolsonaro com os militares, as falas controversas sobre golpes militares e fechamentos do Congresso Nacional, o Dia da Independência se tornou uma data comemorativa para os chamados “golpistas” – pessoas que apoiavam os ideais bolsonaristas e concordavam com a volta da ditadura militar.
No dia, além do tradicional desfile que acontece anualmente em Brasília, o país era tomado por protestos que defendiam ideias antidemocráticas, que iam de pedidos pelo fechamento do Congresso Nacional, ao fim do Supremo Tribunal de Justiça e à tomada do governo pelos militares.
Os eventos que levaram a essa ressignificação do 7 de setembro se concretizaram no dia 8 de janeiro deste ano, quando opositores de Lula invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes. Não à toa, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter o mesmo esquema de proteção desenvolvido durante o governo Bolsonaro para os atos deste ano, em uma forma de se proteger contra eventuais manifestantes antidemocratas.