Ondas de calor podem gerar colapso e ameaçar novas gerações, diz relatório

Sim, precisamos traçar planos coletivos para onde se quisermos reduzir os danos provocados pelas mudanças climáticas. A gente te explica.

Por Agência Bori Atualizado em 29 out 2024, 15h11 - Publicado em 29 out 2024, 06h00
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aumento das temperaturas globais torna nosso planeta cada vez mais inabitável e está perturbando processos vitais nos oceanos, levando a Amazônia ao limite de um colapso em grande escala e colocando em risco uma geração ainda não nascida, aumentando as chances de complicações na gravidez e até mesmo de perdas.

Essa é uma das conclusões do relatório anual 10 Novos Insights em Ciência Climática, lançado nesta segunda (28) pela The Earth League, um consórcio internacional de cientistas e especialistas em clima.

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O trabalho revela o impacto avassalador das mudanças climáticas, que podem reverter décadas de progresso em saúde materna e reprodutiva, contribuir para eventos de El Niño mais extremos e causadores de prejuízo, além de ameaçar a Amazônia, um dos mais importantes sumidouros naturais de carbono, juntamente com outros sete insights climáticos cruciais.

O relatório abrange uma gama de pesquisas climáticas e foi elaborado para subsidiar os formuladores de políticas com o conhecimento mais recente disponível. As informações científicas foram sintetizadas para destacar as implicações políticas que podem orientar as negociações na COP29, que ocorre em novembro, no Azerbaijão, e direcionar as políticas nacionais e internacionais (a gente cobriu, com a Girl UP Brasil a do ano passado, lembra?).

“O relatório confirma que o mundo enfrenta desafios em escala planetária, desde o aumento das emissões de metano até a vulnerabilidade de infraestruturas críticas. Ele mostra que o aumento do calor, a instabilidade dos oceanos e a possível virada da Amazônia podem empurrar partes do nosso planeta além dos limites habitáveis. No entanto, também oferece caminhos claros e soluções, demonstrando que, com ação urgente e decisiva, ainda podemos evitar resultados incontroláveis”, diz Johan Rockström, co-presidente da The Earth League e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha.

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“O relatório também revela o alcance dos impactos da mudança do clima em diferentes sistemas ecológicos, econômicos e sociais. Com menos ambientes habitáveis, a migração de populações pode se intensificar. Também existe um impacto importante na saúde materna, que pode perdurar por gerações”, afirma Mercedes Bustamante, professora da UnB (Universidade de Brasília) e membro do conselho editorial da publicação.

Manifestantes marcham por justiça climática e contra incêndios florestais que afetam todo o país em São Paulo, Brasil, em 22 de setembro de 2024.
Manifestantes marcham por justiça climática e contra incêndios florestais que afetam todo o país em São Paulo, Brasil, em 22 de setembro de 2024. Faga Almeida/UCG/Universal Images/Getty Images

Segundo ela, no Brasil, há uma articulação entre as ações do país para reduzir o desmatamento e a degradação da Amazônia e as iniciativas internacionais para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, que afetam o bioma de forma sinérgica. Apesar dos desafios globais em intensificação, ela ressaltou que há um conjunto de políticas e soluções que podem ser implementadas para enfrentar as mudanças climáticas de maneira eficaz. Diante das ameaças à saúde materna, essas soluções integram, por exemplo, ações de equidade de gênero e justiça climática.

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No entanto, também oferece caminhos claros e soluções, demonstrando que, com ação urgente e decisiva, ainda podemos evitar resultados incontroláveis.

Johan Rockström, co-presidente da The Earth League e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha

O relatório também destaca dois grandes desafios para o mundo natural. O aquecimento dos oceanos persiste e os recordes de temperatura da superfície do mar continuam a ser quebrados, levando a eventos de El Niño mais severos do que se compreendia anteriormente. Segundo o relatório, as perdas econômicas globais adicionais projetadas devido ao aumento na frequência e intensidade do El Niño, resultante do aquecimento global, podem chegar a quase 100 trilhões de dólares ao longo do século 21.

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Getty Images/Getty Images
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A série ‘10 Novos Insights em Ciência Climática’, lançada com a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) nas COPs desde 2017, é uma iniciativa colaborativa da Future Earth, da The Earth League e do Programa Mundial de Pesquisa Climática, sintetizando os principais desenvolvimentos recentes na pesquisa sobre mudanças climáticas. O relatório deste ano representa o esforço coletivo de mais de 80 pesquisadores de destaque, provenientes de 45 países.

Veja, abaixo, os 10 insights do relatório:

  1. Metano: Desde 2006, os níveis de metano aumentaram drasticamente. Já existem soluções econômicas, mas políticas rigorosas são necessárias para reduzir suas emissões nos setores de combustíveis fósseis, resíduos e agricultura.
  2. Poluição do ar: A redução da poluição atmosférica melhora a saúde pública, mas afeta o clima de forma complexa, exigindo que as estratégias de mitigação e adaptação levem isso em consideração.
  3. Calor extremo: Temperaturas e níveis de umidade crescentes estão tornando partes do planeta inabitáveis. Planos de ação contra o calor precisam priorizar os grupos mais vulneráveis.
  4. Saúde materna e reprodutiva: Extremos climáticos estão prejudicando a saúde materna, ameaçando décadas de progresso. Soluções precisam integrar equidade de gênero e justiça climática.
  5. Mudanças nos oceanos: O aquecimento dos oceanos agrava eventos de El Niño e ameaça a estabilidade de sistemas marinhos, podendo causar perdas econômicas globais massivas.
  6. Resiliência da Amazônia: A diversidade biocultural ajuda a Amazônia a resistir às mudanças climáticas, mas essas ações locais precisam ser complementadas por reduções globais de emissões.
  7. Infraestruturas críticas: Infraestruturas estão cada vez mais vulneráveis a desastres climáticos. Ferramentas de IA podem ajudar a torná-las mais resilientes.
  8. Desenvolvimento urbano: Poucas cidades integram mitigação e adaptação em seus planos climáticos. Uma abordagem que combine fatores sociais, ecológicos e tecnológicos pode ajudar no desenvolvimento resiliente.
  9. Minerais de transição energética: A demanda por minerais de transição está aumentando, assim como os riscos na cadeia de suprimentos. Melhor governança é essencial para uma transição justa.
  10. Justiça climática: A aceitação pública das políticas climáticas depende de sua percepção de justiça. A exclusão dos cidadãos no processo de formulação pode gerar resistência.
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