Quem é Kamala Harris, a ‘preferida’ para concorrer contra Donald Trump

Lá em 2020, quando ela ocupou o cargo de vice-presidente, foi um momento significativo para muitos eleitores, em especial, mulheres.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 29 out 2024, 15h34 - Publicado em 22 jul 2024, 06h00
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ão é fácil ser a primeira. Mas pode-se dizer que para Kamala Harris, 59, isso se tornou quase que um hábito. Em agosto de 2020, ela foi escolhida como a primeira mulher negra de ascendência indiana, filha de imigrantes, indicada para concorrer como vice-presidente em uma chapa na corrida eleitoral nos Estados Unidos. 

Três meses depois, após uma eleição sem precedentes e bastante apertada devido à pandemia do novo coronavírus, ela se tornou oficialmente a primeira mulher negra e a primeira pessoa asío-americana do país norte-americano a ocupar a vice-presidência ao lado do presidente, Joe Biden, 81.

Agora, em 2024, ela é a favorita para concorrer à presidência dos Estados Unidos após a desistência de Biden à reeleição após pressão do Partido Democrata e da opinião pública, após gafes, desempenho insatisfatório em debates e um possível condição de saúde cognitiva.

Você, leitor de CAPRICHO, talvez não esteja tão familiarizado com este cenário tão maluco que se desenhou lá no outro país. Mas continue com a gente que, neste texto, vamos te explicar quem é Harris e o que pode acontecer daqui para frente – e ainda, porque isso é importante também para quem está aqui no Brasil. 

Momentos após Biden divulgar a carta de desistência no último domingo (21) e citar seu nome, ela escreveu nas redes sociais agradecendo o apoio do atual presidente e disse que está preparada para unir o Partido Democrata e, eventualmente, derrotar Donald Trump nas urnas em outubro deste ano.

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“Em nome do povo americano, agradeço a Joe Biden por sua liderança extraordinária como Presidente dos Estados Unidos e por suas décadas de serviço ao nosso país”, afirmou. “Estou honrada por ter o apoio do presidente e minha intenção é merecer e ganhar esta nomeação. Farei tudo ao meu alcance para unir o Partido Democrata — e unir nossa nação — para derrotar Donald Trump e sua extrema agenda Projeto 2025”, completou.

Em seguida, Harris pediu doações para sua candidatura. Ou seja, se colocou abertamente disponível ao Partido para se colocar como candidata à Presidência. 

O que vai acontecer a partir de agora, CAPRICHO?

Mas, atenção: o nome de Harris ainda não foi confirmado oficialmente para assumir a candidatura democrata, ok? É importante frisar esta questão, porque, com o endosso de Biden e diversos nomes do partido, como Nancy Pelosi, Bill Clinton e até Barack Obama, manifestando apoio a ela, esta informação pode ficar um pouco confusa.

A vice-presidente pode enfrentar concorrência de outros nomes fortes no partido como: os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg.

E, em meio à repercussão, Donald Trump – oficializado como candidato do Partido Republicano na semana passada – se manifestou. Ele afirmou que crê ser mais fácil de derrotar Harris na disputa do que Joe Biden. O comentário do candidato republicano foi feito à rede de televisão CNN logo após o anúncio da desistência de Biden.

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A trajetória de Kamala Harris até agora

A vice-presidente Kamala Harris participa de uma conversa moderada com a ex-oficial de segurança nacional do governo Trump.
A vice-presidente Kamala Harris participa de uma conversa moderada com a ex-oficial de segurança nacional do governo Trump. Chris duMond/Getty Images

Lá em 2020, nenhuma mulher jamais tinha atuado como vice-presidente ou presidente nos Estados Unidos, viu? Sua eleição para o cargo – e a representação que ela trouxe – foi e ainda é significativa para muitos eleitores e para as mulheres em todo o mundo. 

Aquela foi a quarta vez que uma mulher chegou a uma indicação em uma chapa. Além de indicação de Hillary Clinton em 2016, Geraldine Ferraro foi companheira de chapa do democrata Walter Mondale em 1984, e Sarah Palin concorreu com o republicano John McCain em 2008. Todas as três sofreram derrotas.

Já a chapa democrata Biden-Harris superou o número de 270 delegados necessários para faturar a disputa e derrotou a reeleição do ex-presidente Donald TrumpCom mais de 73,6 milhões de votos, a chapa teve a maior votação da História, batendo o recorde que era de Barack Obama, em 2008. Trump também teve mais votos que Obama: 69,9 milhões. Os números foram projeções feitas pela Associated Press (AP) e pela imprensa norte-americana.

O democrata será o 46º presidente dos Estados Unidos e o mais velho a assumir a Casa Branca, aos 77 anos. Com Harris na vice-presidência, ele levou a melhor em inédito embate com um oponente que constantemente questionava o próprio processo eleitoral e que prometeu não reconhecer o resultado do pleito, que já tachou de “fraude”. 

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Harris, que quando eleita senadora pela Califórnia ―em 2016― se tornou a segunda mulher negra da história do Senado norte-americano, alcança mais uma conquista ao se tornar vice-presidente. Antes, ela era uma das candidatas do partido democrata para concorrer como presidente contra Donald Trump. E hoje pode ser outra promessa e, caso seja escolhida como candidata e seja eventualmente eleita, será primeira novamente. Os Estados Unidos nunca teve uma presidente mulher.

Lá em 2020, agências internacionais e analistas apontavam que ela poderia desempenhar um papel significativo não só para atrair a conquista do voto afroamericano, mas também na definição de políticas públicas ligadas às pautas sociais – em um contexto em que protestos por justiça racial incendiaram o país após o assassinato de George Floyd

Angela Davis, ativista política e professora americana, conhecida pela luta antirracista e defensora do abolicionismo penal, chegou a dizer que a corrida eleitoral à Presidência dos EUA tinha ficado “mais palatável” com Harris. Davis afirmou que embora existam questões problemáticas relacionadas ao histórico dela como promotora de Justiça na Califórnia, apoiava sua escolha.

“Não podemos esquecer que ela não se opôs à pena de morte e não podemos esquecer alguns dos problemas reais que estão associados à sua carreira como promotora”, disse. “Mas é uma abordagem feminista ser capaz de trabalhar com essas contradições. Posso dizer que estou muito animada.”

Apesar de Harris ter sido a primeira mulher negra a concorrer em uma chapa presidencial por um grande partido no país, Harris teve justamente Davis como sua antecessora, sabia? Em 1980 e 1984, a filósofa concorreu como vice pelo extinto Partido Comunista, ao lado de Gus Hall, presidente da legenda na época. 

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Quem é Kamala Harris?

Moradores da cidade ancestral da família de Kamala Harris, na Índia, pintaram frases pelas ruas e ofereceram flores em templos hindus da cidade desejando – e pedindo – por sua vitória aos deuses. Thulasendrapuram, localizada a cerca de 320 km ao sul de Chennai, é onde o avô materno de Harris nasceu há mais de um século.

“Estamos empolgados com o resultado final”, disse Abirami, um morador da vila à agência de notícias Reuters. “Agora, estamos ouvindo notícias positivas. Estamos esperando para comemorar sua vitória”. Segundo a agência de notícias, muitos de seus vizinhos assistiram às atualizações dos votos nos estados norte-americanos em seus telefones celulares.

O avô de Harris, P.V. Gopalan e sua família, se mudaram para Chennai há quase 90 anos. Ele se aposentou como funcionário de alto escalão do governo. Harris nasceu na Califórnia, filha de mãe indiana e pai jamaicano que imigraram para os Estados Unidos para estudar. Ela visitou Thulasendrapuram quando tinha cinco anos e, em entrevistas, já citou que lembra do momento em que caminhou com seu avô pelas praias de Chennai. 

O envolvimento de Harris com o ativismo político começou na infância, algo que ela frequentemente citava durante a campanha. Sua mãe, pesquisadora da área da saúde, e seu pai, um economista, se conheceram como estudantes de graduação na Universidade da Califórnia em Berkeley na década de 1960 e se envolveram com o movimento por direitos civis.

O ativismo de seus pais deu a Harris o que ela chamou de “uma visão panorâmica do movimento pelos direitos civis, cercada por adultos que estavam comprometidos com o serviço e o envolvimento da comunidade”.

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President Biden Addresses NAACP Convention In Las Vegas
Biden em convenção em ‘Las Vegas’ Mario Tama/Getty Images

Harris atribuiu à sua falecida mãe – e de seu avô – o incentivo para entrar no serviço público. Durante debate entre os vice-presidentes neste ano, com ela e Mike Pence, ela afirmou que “o pensamento de que eu estaria sentada aqui agora, eu sei, a deixaria [sua mãe] orgulhosa, e ela deve estar comemorando.”

Depois de se formar na Howard University, uma universidade historicamente negra na cidade de  Washington, Harris voltou à Califórnia para se formar em direito. Em seguida, começou a trabalhar no gabinete da promotoria no condado de Alameda.

Segundo o The New York Times, foi a formação na Howard University que definiu sua carreira. Em reportagem com antigos colegas da atual presidente, o jornal afirma que ela “se estabeleceu em uma política pragmática que definiu sua carreira” e que “participou de protestos e foi um passo à frente das vozes mais radicais no campus.”

“Ela exaltou os valores da representação racial, juntando-se a uma geração de estudantes negros que decidiram entrar nas instituições – no governo e no mundo corporativo – que não estavam disponíveis para seus pais”, diz o texto. 

E sim, Harris foi a “primeira” muitas vezes em sua trajetória. Em 2003, ela concorreu a procuradora do distrito de São Francisco, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo. Quando foi eleita procuradora-geral da Califórnia sete anos depois, quebrou ainda mais barreiras, tornando-se a primeira mulher afro-americana e indiana a assumir o cargo. Antes de ser eleita vice-presidente, foi também a primeira afro-americana a representar a Califórnia como senadora.

Trump
O candidato presidencial republicano, ex-presidente Donald Trump, faz comentários durante um evento de campanha em 11 de novembro de 2023 em Claremont, New Hampshire. Scott Eisen/Getty Images

Agora Harris pode ser a primeira novamente. Como uma mulher negra, enfrentará o desafio de resistir aos ataques com base em sua raça e gênero – que já aconteceram desde 2020. Além de questionar sua origem – algo que surgiu logo após ela ser anunciada como companheira de chapa de Biden, algo que também aconteceu com Obama – especialistas argumentaram que seus oponentes tentaram usar máxima racista da “mulher negra furiosa” contra ela.

Segundo a Reuters, Harris, é conhecida por seu método de questionamento muitas vezes agressivo no Senado, demonstrado especialmente na audiência de confirmação do juiz Brett Kavanaugh, da Suprema Corte norte-americana, em 2018, e que foi visto novamente na sabatina de Amy Coney Barret, indicada à Suprema Corte por Donald Trump.

Alguns dos ataques mais polêmicos contra Harris vieram do homem que ela e Biden derrotaram nas urnas. Questionado sobre a escolha Harris para a chapa, Trump disse a repórteres, segundo o jornal britânico The Guardian, que ela foi “extraordinariamente desagradável” quando interrogou Kavanaugh. Após o debate vice-presidencial, Trump também atacou Harris a chamando de um “monstro”, “horrível”, “totalmente desagradável” e a chamou de “comunista”.

E, em meio à repercussão de desistência de Biden, Trump – oficializado como candidato do Partido Republicano na semana passada semana – se manifestou. Ele afirmou que crê ser mais fácil de derrotar Harris na disputa do que Joe Biden. O comentário do candidato republicano foi feito à rede de televisão “CNN” logo após o anúncio da desistência de Biden.

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