6 coisas que as pessoas negras da comunidade LGBTQ+ querem nos falar

Nossa colunista foi atrás de quem tem voz e precisa ser ouvido: 'é muito difícil conviver nos dois mundos, porque parece uma junção de dois desafios'.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 30 jun 2018, 19h23 - Publicado em 30 jun 2018, 19h23

Na última quinta-feira, 28, foi celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+. A data, que marca um triste episódio de perseguição policial às lésbicas, gays e transexuais que estavam no bar Stonewall Inn, em Nova York, em 1969, tem o intuito de dar destaque à luta da comunidade LGBTQ+, que busca reconhecimento da sua cidadania, garantia de direitos iguais, além do combate ao preconceito.

Reprodução/Reprodução

Os dados sobre a violência contra pessoas LGBTQ+ mostram uma realidade cruel e inaceitável vivida diariamente por esse grupo. Segundo levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 19 horas um LGBTQ+ é assassinado ou comete suicídio por conta da LGBTQfobia. Além da agressão física, o reforço de estereótipo, a falta de oportunidade de estudo e trabalho, e o silenciamento são outras maneiras que violentam essas pessoas.

Negro, gay e pobre. Essas são algumas das características do protagonista do filme Moonlight: Sob a Luz do Luar, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017. A produção, que foi inspirada na peça semi-biográfica In Moonlight Black Boys Look Blue, do diretor Tarell Alvin McCraney, dá destaque a uma representação que quase não é apresentada: a vivência de uma pessoa negra LGBTQ+. Agora, se você não está inserida nessa realidade dupla, seja por não ser negro ou LGBTQ+, como eu, o filme nos traz reflexões como reconhecer nossos privilégios e a busca por atitudes que construam um espaço mais acolhedor e sem preconceito.

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Do mesmo jeito que Moonlight mostra na ficção a história emocionante de Chiron, que é homem negro e gay, fora das telonas também encontramos pessoas negras LGBTQ+ dispostas a compartilharem suas experiências e impressões com a gente. Lais, Lucas, Giovanna, João, Rico e Deivid mandaram a real sobre como é ser uma pessoa negra LGBTQ+.

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No ar que eu respiro Eu sinto prazer De ser quem eu sou De estar onde estou

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1. Lais Rocha (@laisrocha15), estudante
“É muito difícil conviver nos dois mundos, porque parece uma junção de dois ‘desafios’. O desafio de ser lésbica é muito complicado, mas acho que se agrava muito mais por eu também ser negra. Qualquer lugar que você chega, as pessoas já te olham com um desdém por conta da cor da sua pele. Isso piora quando você chega de mãos dadas com alguém do mesmo sexo. Muitas vezes, pensei que eu era o reflexo de tudo o que a sociedade abomina e que jamais me sentiria bem-vinda em algum lugar. Seja por ser negra, seja por ser homossexual, ou a junção dos dois. Mas, com o tempo, vi que não era assim. Hoje, acredito que devemos chegar de cabeça erguida em todos os lugares, até porque não somos piores do que ninguém.”

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2. Lucas Alves (@lucasalvesoficial), estilista
“As pessoas não aceitam um homem negro, com 1.88 m de altura, porte físico grande, que eles costumam chamar de ‘negão’, seja gay! E com certeza a maioria desses comentários vem dos homens. As mulheres já são mais tranquilas, porém algumas ainda falam aquela frase que de certa forma também é preconceituosa: ‘que desperdício um negro lindo desse ser gay’. No meio LGBTQ+, o padrão eurocêntrico também nos exclui. O ‘boy magia’, por exemplo, vai ser o homem homossexual, branco, de cabelo liso, com barba e músculos.”

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PARADA DO ORGULHO LGBT DE SP 18/jun não consigo esquecer toda aquela energia, o dia que saímos às ruas para dizer chega de LGBTFOBIA, (transfobia, lesbofobia, bifobia,homofobia) #tbt #djh3nrq #transboy #transexual #transgenero #homemtrans #homemtranssp #ursomarrom #adidas #paradalgbtsp #paradalgbtsp #existoresisto

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3. João Henrique Machado (@joaohnrq13_), ativista
“Tenho 26 anos, sou homem trans e negro. Em um país em que a expectativa de vida das pessoas trans é de aproximadamente 35 anos e com altos índices de mortes de pessoas negras no Brasil, sigo (r)existindo à transfobia e ao genocídio negro. Como LGBTQ+ e negro, acho essencial falar sobre essas formas de violência. Afinal, isso mata a gente todos os dias. Além da discussão, precisamos de medidas afirmativas que empoderem nossos corpos negros em um país que ‘aboliu’ a escravidão, mas que continua nos escravizando de outras formas. Tudo evoluiu, as formas de trabalho escravo também. A sociedade precisa repensar as coisas como um todo. Repensar gênero e sexualidade incomoda tanto porque estamos falando de reconhecimento de privilégios.”

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don't touch it's art ✨ 🖌 @arte.no.corpo

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4. Giovanna Gilio (@giovannagilio), estudante
“Ser mulher não é fácil. Ser mulher, negra, LGBTQ+ e gorda é menos ainda! Quando eu era mais nova, achava que o sentimento que eu tinha por mim, de não me amar e não me sentir bonita, era minha culpa. E foi aí que percebi que não era o padrão e que não fazia parte do gosto de muitas pessoas. Depois que eu fui percebendo que era bissexual, reparei que recebia uma rejeição de ambos os lados. Ou seja, não era o padrão que nem as mulheres nem os homens procuravam. Pelo menos, eu não achava que era. Quando comecei a me entender melhor, aprendi que o problema não era eu. E esse é o ponto principal: quando você descobre que o problema que não está em você, mas sim em quem te vê, muda tudo. E, com certeza, saber cada particularidade me fez ver que, sim, as pessoas vão gostar de mim do jeito que eu sou. Inclusive, eu gosto do tipo de gente que gosta de mim. É crucial você aprender a si amar para depois disso os outros te amarem.”

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5. Rico Dalasam (@ricodalasam), rapper
“Minha existência, como negro e queer, é referência, pensando nos poucos exemplos que a gente tem. É sempre muito delicado pensar que a existência de um corpo, por mais que esteja ligado à determinada cultura, lifestyle ou modo de existência, como ser bicha, ser preta e fazer rap, pode parecer sinônimo de estar inserido nesses mundos. Aparentemente, eles têm uma estrutura para nos receber, mas não. Eu não estou inserido. O meu trajeto passa, permeia, atravessa e também conflita com esses dois mundos. Pra mim, esses lugares são espaços de passagem, mas não um lugar de estado. E isso é natural. A busca também não está definida em achar uma cadeira cativa. Cada um vem de uma casa e de um processo particular, mas um conselho que posso dar às pessoas que vivem nesse mesmo contexto é: se cuide! Encontre o seu lugar de refúgio e construa uma rede de afetos. Estar atento a isso é essencial, porque é lá que encontramos energia e força para continuar.”

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O Último Carro – 19.11 📷: @paula_shinimaru Facebook: Shinimaru Cosplay e Fotografia

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6. Deivid Alves (@deividalves_), ator
“Acredito que seja óbvio que a marcação cerrada na sociedade se duplica sendo negro e LGBTQ+. Em um mundo onde aparência, status e toda questão de imagem acabam agregando muito mais do que qualquer voz ou palavra que formos falar ao mundo. Algumas das questões que mais me incomodam por ser bissexual é de causar “medo” nas pessoas e ser hipersexualizado. Várias vezes vejo que sou visto como um grande objeto sexual, um fetiche a se realizar e só. Vivemos isso dentro do próprio meio LGBTQ+, uma minoria inserida na outra, a luta se duplica.”

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