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Brasil pede o adiamento do Enem, mas governo está contra o Brasil

Em meio ao caos e à revolta estudantil, ministro da Educação segue celebrando o Enem nas redes sociais

Por Isabella Otto Atualizado em 11 dez 2020, 17h18 - Publicado em 18 Maio 2020, 11h14
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CAPRICHO/Divulgação

Na última sexta-feira (15/5), completou um ano do ato “Tsunami da Educação”, em que estudantes de todo o Brasil saíram às ruas contra os cortes educacionais propostos pelo governo. Neste ano, por causa da pandemia de coronavírus, a UNE (União Nacional dos Estudantes) organizou um ato online contra o Enem, por ora, agendado para acontecer normalmente nos dias 1º e 8 de novembro, a versão tradicional impressa, e 22 e 29 de novembro, o Enem Digital.

A imagem mostra alguns pedaços de vários cadernos de prova do Enem, nas cores rosa, amarelo, azul e branco, e a hashtag AdiaEnem escrita em roxo, em cima da foto.
Divulgação/CH/Reprodução

Os alunos estão preocupados, principalmente aqueles que fazem parte das classes D e E, que, segundo dados da UNE, moram mais da metade em casas sem acesso à internet, item imprescindível no estudo à distância e na realização da matrícula do Enem. O número chega a 60%. Aqueles que não fazem parte dessa parcela se solidarizam com os que fazem. Para muitos, manter o exame é, além de escancarar, aprofundar desigualdades

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A hashtag #AdiaEnem ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter no dia 15 e parte do final de semana. A aderência de famosos à causa foi grande. Maisa e Fernanda Concon participaram de lives falando sobre a importância do exame ser adiado. Thelma, campeã do BBB20, também se pronunciou: “Em períodos de quarentena, as pessoas não estão tendo contato com o estudo da forma como deveria ser feita, não é isso? (…) Então, nada mais justo do que adiar. Tudo está sendo adiado”, falou também durante uma live.

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Milhares de estudantes usaram a criatividade para protestar virtualmente e tentar, mais um vez, chamar a atenção do governo. Veja alguns exemplos abaixo:

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No dia 15, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, participou de uma entrevista ao vivo na CNN. Mais uma vez, um representante do governo de Jair Bolsonaro disse ter se surpreendido com uma entrevista tendenciosa e perguntas que não estavam no roteiro. Ele aproveitou para atacar a imprensa e depois fazer pouco caso dela nas redes sociais. “Será que fui educado?”, ironizou no Twitter, usando um emoji de anjinho. “Quando a gente combina uma coisa, a palavra tem que ser honrada”, falou em entrevista, dizendo que o acordo era falar sobre o Enem, não sobre a crise política no governo, que teve atualmente mais uma desistência, a de Nelson Teich, ex-ministro da Saúde.

Um dia após sua participação na CNN, Weintraub postou uma mensagem cheia de orgulho no Twitter, dizendo que todas as 100 mil vagas no Enem Digital haviam sido preenchidas. “E já estamos com 3.167.421 inscritos no Enem tradicional”, afirmou.

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O Brasil tem 209 milhões de habitantes e 46 milhões deles não possuem acesso à internet. De acordo com dados do próprio Inep, coletados pelo Censo Escolar de 2019, o sistema de ensino brasileiro conta com 47,8 milhões de alunos. 38,7 milhões estudam em escolas públicas e 9,1 milhões em particulares. Fica claro quem foram os estudantes que preencheram as vagas do Enem Digital (que, inclusive, caem nos mesmos dias dos vestibulares da USP e da Unicamp) e do Enem tradicional – e quem preenche essas vagas anualmente com reais chances de transformá-las em uma porta de entrada para grandes universidades. O Enem também e ainda é elitista.

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter dito recentemente que o Enem pode adiar um pouco, mas que deve continuar acontecendo em 2020, na prática vemos que isso não passa de uma teoria ainda distante. Universidades federais de São Paulo, estado que é o epicentro do coronavírus no país, se uniram aos estudantes e pediram o adiamento do exame: “Nosso objetivo é evitarmos que ocorra um grave prejuízo aos estudantes do ensino médio no acesso ao ensino superior que, em função da pandemia, estão submetidos a condições muito desiguais de isolamento social e de acesso às ferramentas de ensino remoto, agravadas pelas enormes desigualdades sociais em todo o Brasil e, em especial, no estado de São Paulo”, dizem Unifesp, UFSCar, UFABC e IFSP em manifesto assinado pelos reitores.

#AdiaEnem não é só hashtag, é necessidade e dever público. 

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